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terça-feira, novembro 04, 2008

Riqueza, Pobreza e Sabedoria – Leon Denis



Observem as aves de nossa região durante os meses de inverno, quando o céu está sombrio, quando a terra está coberta de um manto branco de neve; apertados uns contra os outros, na borda de um telhado, aquecem-se mutuamente em silêncio.

A necessidade os une. Mas vêm os belos dias, o sol resplandecente, a provisão abundante, e eles chilreiam, perseguem-se, combatem-se, dilaceram-se. Assim é o homem. Doce, afetuoso com seus semelhantes nos dias de tristeza, a posse de bens materiais o torna, muito freqüentemente, esquecido e duro.

Uma condição modesta convém melhor ao espírito desejoso de progredir, de adquirir as virtudes necessárias à sua ascensão moral.

Longe do turbilhão dos prazeres enganadores, aquilatará melhor a vida. Solicitará da matéria o que é necessário à conservação de seu organismo, mas evitará cair nos hábitos perniciosos, tornar-se presa das inumeráveis necessidades fictícias que são os flagelos da humanidade. Será sóbrio e trabalhador, contentando-se com pouco, ligando-se, acima de tudo, aos prazeres da inteligência e às jóias do coração.

Assim, fortificado contra os assaltos da matéria, o sábio, sob a pura luz da razão, verá resplandecer seu destino. Esclarecido sobre o objetivo da vida e o porquê das coisas, permanecerá firme, resignado diante da dor; saberá fazê-la servir à sua depuração, ao seu adiantamento.

Afrontará a prova com coragem, compreendendo ser salutar, que é o choque que rasgará nossas almas, e que é só por esse dilaceramento que poderá ser derramado o fel que está em nós.

Se os homens rirem dele, se for vítima da injustiça e da intriga, aprenderá a suportar pacientemente seus males, dirigindo seus pensamentos para nossos irmãos mais velhos: Sócrates bebendo a cicuta, Jesus na cruz, Joana na fogueira.
Consolar-se-á no pensamento de que os maiores, os mais virtuosos, os mais dignos, sofreram e morreram pela humanidade.

E quando, enfim, após uma existência bem completada, vier a hora solene, será com calma, sem pesar, que acolherá a morte; a morte, que os homens envolvem com sinistro aparato; a morte, espanto dos poderosos e dos sensuais, e que, para o pensador austero, não é mais que a libertação, a hora da transformação, a porta que se abre para o império luminoso dos Espíritos.

Esse umbral das regiões supra-terrestres, flanqueá-lo-á com serenidade. Sua consciência, desapegada das sombras materiais, se vestirá ante ele como um juiz, representante de Deus, perguntando: “Que fez da vida?” E responderá : - “Tenho lutado, sofrido, amado, ensinado o bem, a verdade, a justiça; tenho dado aos meus irmãos o exemplo da retidão, da doçura; tenho socorrido aqueles que sofrem, consolado os que choram. E agora, que O Eterno me julga, eis-me aqui em Suas mãos!”


Trecho do livro “O Porquê da Vida” de Leon Denis