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quinta-feira, novembro 17, 2011

Poesia Cecilia Meireles - Conveniencia


 

CONVENIÊNCIA

 

CONVÉM que o sonho tenha margens de nuvens rápidas

e os pássaros não se expliquem, e os velhos andem pelo sol,

e os amantes chorem, beijando-se, por algum infanticídio

Convém tudo isso, e muito mais, e muito mais...

E por êsse motivo aqui vou, como os papéis abertos

que caem das janelas dos sobrados, tontamente...

 

Depois das ruas, e dos trens, e dos navios,

encontrarei casualmente a sala que afinal buscava,

e o meu retrato, na parede, olhará para os olhos que levo.

E encolherei meu corpo nalguma cama dura e fria.

(Os grilos da infância estarão cantando dentro da erva...)

E eu pensarei: «Que bom! nem é preciso respirar!...»

 

(do livro Viagem, de Cecília Meirelles)