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terça-feira, fevereiro 06, 2024

Poema Concreto - Tiago de Melo



O que tu tens e queres saber (porque te dói), não tem nome.

Só tem (mas vazio) o lugar que abriu em tua vida a sua própria falta.
 

A dor que te dói pelo avesso, perdida nos teus escuros,

É como alguém que come não o pão, mas a fome,

Sofres de não saber o que tens e falta

Num lugar que nem sabes,

Mas que é na tua vida

Quem sabe é em teu amor.

O que tu tens, não tens.

Esse poema reflete a dor e a ausência que sentimos quando algo que não conseguimos nomear está faltando em nossas vidas. O texto explora a ideia do vazio – não apenas como a ausência de algo concreto, mas como uma sensação que consome o indivíduo internamente.

Reflexão Sobre o Vazio e a Dor Interior

O verso inicial, "O que tu tens e queres saber (porque te dói), não tem nome", já sugere um sofrimento profundo e indefinido, uma dor que não pode ser explicada com palavras. Muitas vezes, o que nos aflige não é um objeto tangível ou uma situação clara, mas algo que ressoa no nosso íntimo, difícil de ser compreendido.

A Ausência que Preenche

A metáfora da falta ganha corpo ao longo do poema, principalmente na imagem de um lugar vazio que foi aberto pela própria falta: "Só tem (mas vazio) o lugar que abriu em tua vida a sua própria falta". Esse lugar vazio na vida do eu lírico parece se expandir e torna-se uma presença marcante, ainda que seja a ausência que o preenche.

A Dor Invertida e Insondável

O trecho "A dor que te dói pelo avesso, perdida nos teus escuros" sugere uma dor que vai além do sofrimento comum, algo que se volta para dentro, que ecoa nos cantos mais obscuros da alma. Esse sentimento é comparado a alguém que não consome o que é substancial (o pão), mas sim a própria fome, simbolizando um desejo insaciável e doloroso.

O Desconhecido que Falta

Finalmente, o poema expressa a angústia de não saber exatamente o que está faltando: "Sofres de não saber o que tens e falta / Num lugar que nem sabes". Esse desconhecido se mistura à vida, possivelmente relacionado ao amor ou às relações humanas, deixando o eu lírico sem respostas, apenas com a certeza de que o que ele sente, não pode possuir.

Uma Conclusão Filosófica

O verso final, "O que tu tens, não tens", encerra o poema com uma ideia paradoxal, refletindo a complexidade da dor existencial e do vazio. Mesmo quando se parece ter algo, sua essência pode escapar, mostrando que a verdadeira posse ou entendimento do que nos falta pode ser inalcançável.

Esse poema, denso em suas metáforas e introspectivo em seu conteúdo, oferece uma reflexão profunda sobre o sofrimento humano, o vazio e a dificuldade de compreender plenamente nossos próprios sentimentos e carências.