Você olha para a sua mulher e ela está com a cara amondongada. Hm. Aí tem. Você a conhece, sabe que ela está chateada. Será que é algo que você fez? Ou algo que você não fez? Deve ter sido. Sempre é. Você chega para ela com todo o jeito e:
— Que que foi?
Ela, ligeiramente impaciente:
— Que que foi o quê?
— Você parece chateada...
Um pouco menos ligeiramente impaciente:
— Não é nada.
— Como assim, não é nada? Você está estranha.
Depois de um suspiro baixo, definitivamente impaciente:
— Estou triste, só isso.
— Por quê?
Outro suspiro. Levemente irritada:
— Por nada.
— Como assim por nada? Tem que ter alguma coisa!
Menos levemente irritada:
— Por nada, já disse!
— Ninguém fica triste por nada! Tem que ter algo!
Horrivelmente irritada:
— Já disse que não tenho nada!
E, antes que você possa contra-argumentar, ela pronuncia a frase definitiva e irrespondível:
— Tenho o direito de ficar triste!
Essa frase sempre me desconcerta. Porque direito é sempre algo bom, não é? A pessoa tem direito de morar bem, direito de ser feliz, direito de ganhar o décimo-terceiro e talicoisa. Ninguém reclama ter o direito, por exemplo, de ser atropelado. Ou, sei lá:
— Tenho o direito de ter hemorróidas!
— Tenho o direito de fazer tratamento de canal!
— Tenho o direito de passar a minha vida inteira em Ciudad del Leste!
A mesma coisa isso de ficar triste. Por que as mulheres reivindicam o direito de ficar triste? Quem é que gosta de ficar triste?
Bem. Elas gostam. Elas querem ter o direito disso.
Assim, quando a sua mulher disser que não compreende por que você sofre por causa do futebol, responda simplesmente:
— Tenho o direito de sofrer!
Para você isso não significa nada, mas ela entenderá.
***
Por ter travado esse diálogo inúmeras vezes, sei que, na verdade, tudo não passa de uma cilada. Quando uma mulher está triste, ela quer que você pergunte por que ela está triste, mas, ao mesmo tempo, ficará irritada se você perguntar por que ela está triste. Ela quer é falar. Falar, falar, falar.
Vai dizer que as coisas estão erradas na vida dela, que ela precisa mudar e bibibi, mas não será nada objetivo. Muito irritante, sei, mas você precisa se conter e não perguntar os motivos de tudo aquilo. Não tem motivo, manja? Toda aquela cena é só para falar. Falar, falar, falar.....
Quando ela vai comprar roupa:
Estratégia, entendeu? Você precisa usar estratégia com as mulheres, meeen! Por exemplo, quando vocês vão juntos comprar roupa para ela. Ela fica lá, experimentando todas aquelas roupas.
Quer a sua opinião, mas, em verdade em verdade vos digo: a sua opinião não importa. Ela está trocando de vestido sem parar e posando em frente ao espelho e perguntando o que você acha. Digamos que você escolha o preto. Ela:
— Mas não acha que o amarelo é mais elegante?
Você vai repetir que preferiu o preto. Aí ela vai discorrer longa e enfadonhamente sobre as vantagens do amarelo. Quer dizer: ela já escolheu o amarelo, você que é uma besta de ter preferido o preto. E se você disser que para você tanto faz, pior: ela ficará ofendidíssima.
Você deve agir da seguinte forma, preste atenção:
Escolha sempre o segundo.
Segundo vestido, segundo sapato, segunda calça. Sempre o segundo. Porque, se você escolher o primeiro, ela vai pensar que você quer se livrar logo daquilo; se você esperar muito, ela ficará experimentando roupa por horas; se você disser que não faz diferença, ela ficará furiosa. Assim, escolha o segundo e se mantenha firme nessa decisão:
— O segundo é o melhor, o segundo é o mais bonito.
Até que ela se decida por outro. Aí, nada de resistências. Você precisa aderir rapidamente:
— É, pensando bem, este é tão bonito quanto o segundo.
Pronto, você fez uma mulher feliz e, naquele fim de semana, poderá sofrer em paz com o seu time na TV.
David Coimbra
* Texto publicado na Zero Hora de 21 de setembro de 2008