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quinta-feira, outubro 01, 2009

Quem foi Malba Tahan

Malba Tahan é o pseudônimo do escritor Júlio César de Mello e Souza

 

Filho de professores, cujo maior patrimônio eram os nove filhos, Júlio César nasceu

no Rio de Janeiro, no dia 06 de maio de 1895.

Freqüentava as tertúlias onde costumava contar histórias. Suas histórias tinham as

vezes muitos personagens, alguns deles com nomes esquisitos como Mardukbarian,

Protocholóski, Orônsio e outros sem função no contexto. A infância tranqüila em Queluz,

as peripécias de Júlio César e suas relações familiares foram mais tarde descritas pelo

irmão escritor João Batista, no livro Os meninos de Queluz. Aos dez anos foi enviado

pelo pai ao Rio onde deveria se preparar para o Colégio Militar. Coube a João Batista, por

ser o mais velho, a tarefa de orientá-lo e mais que isso, fazê-lo estudar. Preocupado,

escreveu certa vez ao pai informando sobre Júlio César:

Não sei como o Julinho vai se sair no exame: escreve mal e é uma negação em

matemática.

Contrariando as previsões pessimistas do irmão, Júlio César ingressou no Colégio

Militar do Rio de Janeiro em 1906, onde permaneceu até 1909 quando se transferiu para o

Colégio Pedro II.

 

Mercador de Esperanças

O dinheiro que Júlio César recebia do pai era muito pouco e assim, resolveu

aumentar a mesada, vendendo redações. Certa feita o professor mandou fazer uma

redação com o tema Esperança. Júlio César fez várias redações diferentes Vejamos o que

ele próprio diz no livro de memória

Acordaram-me de Madrugada: Na nossa turma havia uns sete ou oito que eram

marginais da cola, vadios da pior marca. Pela manhã, depois do café, vendi as quatro

esperanças a quatrocentos reis cada uma! Como mercador de esperanças o meu êxito,

naquele dia foi espantoso.

A partir de então passou a escrever sob encomenda e vender esperanças, ódios,

saudades...

Anos depois, encontrou o professor Silva Ramos, seu ex-professor e sua vítima que

o apresentou a Raul Pederneiras, como mercador de redações. Pederneiras o repreendeu:

Você vendia redações de ódios e de esperanças!. Despreze o ódio. Continue, sempre que

for possível a vender a esperança pela vida. Adote um profissão poética: Mercador de

Esperança, que na venda da esperança ganha o Comprador e muito mais o Vendedor.

 

Início da carreira de professor

Júlio César não foi bom aluno de matemática no Colégio Pedro II: chegou a tirar

dois em uma sabatina de álgebra e cinco em uma prova de aritmética. Criticava

veementemente a didática da época que classificava como o detestável método de

salivação.

Vocacionado para o magistério, concluiu o curso de professor primário na Escola

Normal do antigo Distrito Federal e, depois diplomou-se em Engenharia Civil pela

Escola Politécnica em 1913.

Iniciou suas atividades profissionais como servente e auxiliar interino da Biblioteca

Nacional, privilegiada oportunidade de conviver com milhares de livros. A sua carreira

de professor começou nas turmas suplementares do Externato do Colégio Pedro II.

Depois, assumiu a docência na Escola Normal. Lecionou para menores carentes. Tornouse

mais tarde catedrático do Colégio Pedro II, do Instituto de Educação, da Escola

Normal da Universidade do Brasil e da Faculdade Nacional de Educação, onde recebeu o

título de Prof. Emérito.

Nas aulas, trabalhava com estudo dirigido, manipulação de objetos e propôs a

criação de laboratórios de matemática em todas as escolas.

Em seu depoimento no Museu da Imagem e do Som, Júlio César admitiu não dar

zeros:Por que dar zeros, se há tantos números? Dar zero é uma tolice.

 

Nasce Malba Tahan

Em 1919 Júlio César, depois de tentar inutilmente publicar alguns artigos seus, no

jornal O Imparcial onde trabalhava, convenceu o editor a publicar os artigos de um certo

R. S. Slade, que, segundo ele, estava fazendo enorme sucesso nos Estados Unidos. O

primeiro de todos os artigos publicados com o pseudônimo R.S. Slade foi A vingança do

Judeu. Entre 1918 e 1925, Júlio César estudou árabe, leu o Talmude e o Corão, estudou

História e Geografia do Oriente e, combinado com Irineu Marinho, do jornal A NOITE,

criou o personagem Ali Iezid Izz-Eduim Ibn Salim Hank Malba Tahan.

O personagem nasceu em 1885 na Arábia Saudita, e bastante jovem foi prefeito

(queimaçã) de El Medina. Com a herança do pai, Tahan ficou riquíssimo e viajou por

vários países como a Rússia, a Índia e o Japão, morrendo em 1921, na luta pela libertação

de uma tribo na Arábia Central. Para maior verossimilhança foi criado também um

"tradutor" para a obra de Tahan, o professor Breno de Alencar Bianco. O jornal começou

a publicação dos CONTOS DE MALBA TAHAN com a biografia do suposto autor. O

nome Tahan foi tirado do sobrenome de uma de suas alunas (Maria Zachsuk Tahan) e

significa moleiro. O nome Malba significaria oásis. A mudança de nome tornou-o tão

famoso que o presidente Getúlio Vargas autorizou-o a usar o nome Malba Tahan na sua

cédula de identidade.

 

O Homem que calculava

Júlio César só saiu do Brasil para visitar Lisboa, Montevidéu e Buenos Aires:

jamais esteve no Oriente, jamais viu um deserto!

Com o pseudônimo de Malba Tahan publicou cerca de 56 livros. Sua obra é

bastante diversificada: trata de matemática, didática, contos orientais, contos infantis,

teatro, moral religiosa, temas brasileiros, etc. O livro preferido de Malba Tahan era a

Sombra do Arco-íris mas, o seu livro mais famoso é O Homem que Calculava, que conta

a história de um árabe que usa a matemática para resolver qualquer tipo de problema. A

obra foi premiada pela Academia Brasileira de Letras.

 

Justiça!

Durante seus quase oitenta anos ministrou cursos e ministrou mais de duas mil

palestras para professores e estudantes, especialmente normalistas. Em 1954 esteve em

Fortaleza proferindo palestras no Colégio Militar, no Instituto de Educação e no Clube

Líbano.

Julio César foi ainda apresentador de programa nas rádios Nacional, Clube e

Mairynk Veiga do Rio e da TV Tupi (Rio) e Canal 2 (atual TVC - São Paulo).

O Brasil não tem feito justiça ao grande matemático. No ano do centenário de seu

nascimento apenas as Revistas Superinteressante e Nova Escola lhe homenagearam. Seu

livro mais famoso, o Homem que Calculava, que já ultrapassou a 45ª edição, vendeu mais

de dois milhões de exemplares, foi traduzido para o alemão, o inglês, nos Estados Unidos

e na Inglaterra, o Italiano, o espanhol e o catalão. O Homem que Calculava é indicado

como livro paradidático em vários países, citado na Revista Book Report e em várias

publicações do gênero.

 

Um Pioneiro

Malba Tahan foi o precursor do de uma nova tendência que se afirma com vigor e

tem adeptos em todo o Brasil: a Educação Matemática. Pioneiramente trabalhou com a

História da Matemática, defendeu com veemência a resolução de exercícios sem o uso

mecânico de fórmulas, valorizando o raciocínio e utilizou atividades lúdicas para o ensino

da matemática. Muito antes de se tratar no País da interdisciplinaridade, Malba Tahan

preocupou-se com a unificação das ciências como demonstra na sua tese, o professor John

Conway da Universidade de Princeton. Sua obra tem sido objeto de diversas teses no

exterior e comentada pela Revista Science (1993) e pela Profa. Rossana Taziolli da Societá

Italiana di Scienze Matematiche e Fisiche.

 

Uassalã

Malba Tahan ocupou a cadeira número 8 da Academia Pernambucana de Letras, é

nome de escola no Rio de Janeiro. A homenagem mais importante foi prestada pela

Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro instituindo o dia do matemático na data de seu

nascimento, dia 06 de maio.

Privados da presença do grande mestre há um quarto de século, confortamo-nos

com o seu precioso legado, inequívoca contribuição para a difusão da ciência e a

desmistificação da matemática .

Que Allah o tenha em sua glória, ulemá Tahan!

Uassalã!

 

A morte do mestre

 

Antes de morrer, o escritor Malha Tahan pediu que seu enterro fosse feito

num caixão de terceira classe, sem homenagens, flores ou coroas. A humildade

foi uma constante na vida desse homem que escreveu tanto sobre os árabes e

nunca foi ao Oriente Médio. Carioca de família pobre e numerosa, Júlio César de

Melo e Sousa nasceu no dia 6 de maio de 1895, e ainda menino já vendia

composições prontas a colegas preguiçosos, no Colégio Pedro II. Escrever, desde

então, sempre foi sua especialidade: são, ao todo, cento e quinze obras, entre

livros de matemática e de contos juvenis - “O Homem que Calculava”, “História

sem fim”, “Céu de Allah”, “Mártires da Armênia” -, que fascinaram pelo menos

três gerações de adolescentes.

Ao adotar o pseudônimo de Malha Tahan, criou uma biografia para o

“famoso escritor árabe”, nascido na aldeia de Mazalit, nas proximidades da

antiga cidade de Meca, e cujo nome completo era Ali Iezid Izz-Edim ibn Salim

Hank Malba Tahan. Formado em engenharia civil, Melo e Sousa preferiu

dedicar-se ao magistério e à literatura. Lecionou no Instituto de Educação do Rio

de Janeiro, onde instituiu uma nova disciplina, a arte de contar histórias, para o

aperfeiçoamento dos professores. Foi educador no Serviço Nacional de

Assistência aos Menores e catedrático de matemática do Colégio Pedro II, da

Escola Nacional de Belas-Artes e da Faculdade Nacional de Arquitetura.

Para o professor Lauro de Oliveira Lima, Malba Tahan “era o showman

da pedagogia. Popularizou a matemática em livros deliciosos, usados ainda

hoje. Suas aulas de didática eram um verdadeiro espetáculo. Creio que ficará

pouco de sua didática, pois sua didática era ele próprio. Acho que seu nome

ficará como o contador de lindas histórias e como lembrança de um homem

cheio de generosidade”.

 

Depois de esquecidos durante algum tempo, seus livros voltaram a circular

a partir de 1984, e certamente irão encantar a nova geração. Esse homem, que

contava com a admiração integral de um mestre da literatura infanto-juvenil,

Monteiro Lobato, morreu em Recife, de enfarte, a 18 de junho de 1974.

Traduzido para o espanhol e o inglês, “O Homem que Calculava” foi premiado

pela Academia Brasileira de Letras. Trata-se de um livro muito original, que

revela o profundo conhecedor da cultura do Islã e da ciência matemática. Em

seus livros, triunfa uma visão que faz da ciência uma aventura tão maravilhosa

quanto a mais imaginosa obra de ficção.

 

Extraído da versão digital do Livro “O Homem Que Calculava” de Malba Tahan