Google
 

quarta-feira, março 05, 2025

Porque Oscar Wilde foi sepultado na França?

Quem foi Oscar Wilde

Oscar Wilde (1854–1900) foi um escritor, poeta e dramaturgo irlandês, conhecido por seu estilo sofisticado, sua inteligência afiada e suas críticas à sociedade vitoriana. Ele se destacou principalmente por suas peças de teatro, sua única novela e suas frases irônicas e sarcásticas.

Principais Obras:

  • "O Retrato de Dorian Gray" (1890) – Seu único romance, que explora o hedonismo e as consequências da busca pelo prazer.
  • "A Importância de Ser Prudente" (1895) – Uma comédia de costumes que satiriza a hipocrisia da aristocracia inglesa.
  • "O Fantasma de Canterville" (1887) – Uma história que mistura humor e terror gótico.
  • "De Profundis" (1905, póstumo) – Carta escrita na prisão, onde reflete sobre sua vida e sofrimento.

Morte na França

Oscar Wilde foi sepultado na França porque passou seus últimos anos de vida em Paris, após ter sido libertado da prisão em 1897. Ele havia sido condenado a dois anos de trabalhos forçados na Inglaterra devido à sua orientação sexual, o que arruinou sua reputação e sua saúde. Depois de sair da prisão, mudou-se para a França sob um novo nome, Sebastian Melmoth, e viveu na pobreza até sua morte, em 1900, aos 46 anos.

Ele faleceu de meningite em um hotel barato de Paris e foi enterrado inicialmente no Cemitério de Bagneux. Em 1909, seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério do Père Lachaise, onde está até hoje. Seu túmulo, projetado pelo escultor Jacob Epstein, se tornou um dos mais visitados do cemitério.

Vida e Escândalo:

Wilde alcançou grande fama na Inglaterra vitoriana, mas sua carreira foi destruída quando foi condenado a dois anos de prisão em 1895 por "indecência grave", devido ao seu relacionamento com Lord Alfred Douglas. Após cumprir a pena, exilou-se na França, onde viveu na pobreza até sua morte, em 1900.

Oscar Wilde é lembrado como um dos maiores escritores da língua inglesa e um símbolo da liberdade de expressão e da luta contra a hipocrisia moralista de sua época.


Hedonismo na Cultura e Literatura

hedonismo é uma filosofia que afirma que o prazer é o bem supremo e a principal motivação da vida. Segundo essa visão, as pessoas devem buscar o que lhes traz satisfação e evitar o sofrimento.

Oscar Wilde explorou o hedonismo em "O Retrato de Dorian Gray", onde o personagem principal busca o prazer sem medir as consequências, levando à sua própria ruína. O conceito também aparece na filosofia grega, com Epicuro, que defendia um hedonismo mais racional e equilibrado.

O hedonismo pode ser visto tanto como uma filosofia de vida positiva quanto como um caminho perigoso, dependendo de como é aplicado.

Alguns trechos do Livro  'De Profundis'

De Profundis é uma carta que Oscar Wilde escreveu na prisão para seu antigo amante, Lord Alfred Douglas. Nela, ele reflete sobre sua vida, sofrimento e redenção. Aqui estão alguns trechos marcantes:

1. Sobre o sofrimento e o aprendizado:

"Onde há sofrimento, há solo sagrado. Algum dia as pessoas perceberão o que isso significa. Mas, por ora, estou convencido de que Deus está muito mais próximo do homem no sofrimento do que no triunfo, e que, na cruz, não há apenas a compaixão de um só, mas a tragédia do mundo inteiro."

2. Sobre sua própria ruína:

"A sociedade, tal como a construíram, me arruinou, mas ao mesmo tempo, apenas um tolo não veria que eu me arruinei sozinho muito mais do que qualquer um poderia ter feito."

3. Sobre a hipocrisia social:

"Os deuses me deram quase tudo. Mas também me infligiram uma ruína terrível e ignominiosa. Alguns acreditam que fui tratado injustamente, outros pensam que recebi o que merecia. Mas, para mim, tudo isso é irrelevante. O importante é que fui colocado em uma prisão durante dois anos."

4. Sobre a arte e a dor:

"As coisas mais belas deste mundo são vazias e frágeis como bolhas de sabão, e ninguém sabe disso melhor do que um artista."

5. Sobre a transformação interior:

"Agora sei que a alma deve passar por grandes experiências para atingir a perfeição, e nenhuma experiência é tão grande quanto o sofrimento."

Esses trechos mostram como Wilde, que antes levava uma vida de luxo e excessos, passou a enxergar o sofrimento como uma forma de crescimento espiritual. É uma obra profundamente reflexiva e emocional.

Os Filhos de Oscar Wilde

Oscar Wilde teve dois filhos com sua esposa Constance Lloyd:
  1. Cyril Holland (1885–1915) – Tornou-se oficial do exército britânico e morreu na Primeira Guerra Mundial.
  2. Vyvyan Holland (1886–1967) – Seguiu carreira como escritor e tradutor, e teve um filho, Merlin Holland, que se tornou historiador e guardião do legado de Wilde.

Após o escândalo e a prisão de Wilde, Constance mudou o sobrenome dos filhos para Holland para protegê-los da desonra pública. Eles foram criados longe do pai e nunca mais o viram após sua condenação.

terça-feira, fevereiro 18, 2025

Como a Poesia Pode Transformar Seu Cotidiano


 

Como a Poesia Pode Transformar Seu Cotidiano

A poesia vai além da estética das palavras. Ela é uma ferramenta poderosa que pode mudar a forma como enxergamos a vida, ajudando a expressar sentimentos e ampliar nossa percepção do mundo.

Muitas vezes, nos sentimos presos à rotina e não percebemos a beleza nas pequenas coisas. A poesia nos ensina a prestar atenção e valorizar o instante.

Neste artigo, exploramos como a poesia pode impactar seu dia a dia, trazendo mais emoção, reflexão e criatividade.


1. Poesia Como Exercício de Sensibilidade

A poesia ensina a observar e sentir de maneira mais intensa. Pequenos detalhes ganham significado e passam a ser vistos com outra perspectiva.

Os versos nos mostram que até algo simples, como uma pedra no caminho, pode ser um símbolo para a vida.

Trecho de "No Meio do Caminho", de Carlos Drummond de Andrade

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra."

Esse poema, aparentemente simples, nos ensina que os obstáculos fazem parte da jornada. A repetição enfatiza como certos desafios podem marcar nossas vidas.

Drummond nos convida a refletir sobre como lidamos com as dificuldades. Muitas vezes, as pedras que encontramos não podem ser evitadas, mas podemos escolher como enfrentá-las.


2. A Poesia e o Alívio do Estresse

A poesia funciona como um refúgio para a mente. Ao mergulhar em versos, esquecemos por um instante as preocupações do dia a dia e encontramos conforto nas palavras.

A leitura poética pode até ser considerada um tipo de meditação, pois ajuda a focar a atenção e a desacelerar os pensamentos.

Trecho de "Via Láctea", de Olavo Bilac

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

Bilac fala sobre um encantamento que vai além da razão. Ele nos convida a ver beleza onde muitos não veem, a sentir coisas que outros ignoram.

Ao permitir-se ouvir estrelas, Bilac nos ensina a fugir da frieza do mundo racional e encontrar na poesia uma forma de sonhar e aliviar as tensões da realidade.


3. Poesia e Criatividade

A leitura e escrita de poemas estimulam o cérebro a pensar de forma diferente. Metáforas, rimas e jogos de palavras desafiam nossa mente a criar novas conexões.

A poesia desperta a imaginação, ajudando-nos a ver a vida de formas inesperadas e inovadoras.

Trecho de "Soneto da Fidelidade", de Vinicius de Moraes

"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
Rindo meu riso e derramando o pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento."

Vinicius de Moraes usa palavras simples para expressar sentimentos profundos. Ele transforma o amor em algo que deve ser vivido com intensidade e atenção.

A criatividade poética não está apenas nas rimas, mas na forma como o poeta nos faz sentir. A poesia nos inspira a ver as emoções de maneira mais rica e profunda.


4. Poesia Como Reflexão Sobre a Vida

Muitos poetas abordam temas como o tempo, a existência e a transitoriedade da vida. Ler poesia nos faz pensar sobre nossa própria jornada e o que realmente importa.

Através dos versos, encontramos respostas para dúvidas e inquietações que fazem parte da experiência humana.

Trecho de "O Tempo", de Mário Quintana

"A vida é o dever que nós trouxemos
para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já terminou o ano!
Quando se vê, não sabemos mais por onde andam
nossos amigos.
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida."

Quintana usa a metáfora da vida como um dever de casa, algo que devemos fazer com cuidado antes que o tempo acabe.

O poema nos alerta sobre a rapidez com que os dias passam e a importância de aproveitar cada momento. Ele nos convida a refletir sobre o que estamos deixando para trás.


5. A Poesia Como Meio de Conexão

A poesia também une pessoas. Compartilhar um poema pode ser uma forma poderosa de expressar sentimentos e criar laços mais profundos.

Ela permite dizer o que muitas vezes não conseguimos colocar em palavras no dia a dia.

Trecho de "Eu Sei Que Vou Te Amar", de Vinicius de Moraes

"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida."

O poema expressa o amor de forma intensa e verdadeira. Ele nos ensina que palavras simples podem transmitir sentimentos profundos.

Ler ou dedicar um poema a alguém pode fortalecer laços e criar momentos inesquecíveis. A poesia tem esse poder de tocar a alma e unir corações.


Conclusão

A poesia não é apenas um passatempo. Ela é um convite para sentir, refletir e ver o mundo de uma nova maneira.

Incorporar a poesia ao cotidiano pode trazer mais sensibilidade, criatividade e profundidade para a vida.

Que tal começar agora? Leia um poema ou escreva seus próprios versos. Você pode se surpreender com o impacto que a poesia terá em sua rotina.


Os Benefícios da Leitura para o Cérebro e a Mente




Ler é uma das atividades mais poderosas para o cérebro. Além de ampliar o conhecimento, a leitura melhora habilidades cognitivas, fortalece a memória e reduz o estresse.

Estudos mostram que ler regularmente pode até retardar o envelhecimento cerebral e prevenir doenças neurodegenerativas. Mas como isso acontece?

Neste artigo, exploramos como a leitura beneficia sua mente e transforma sua vida.


1. Leitura Fortalece a Memória e a Concentração

Ao ler, o cérebro precisa lembrar de personagens, enredos e detalhes do texto. Esse exercício fortalece a memória e melhora a capacidade de foco.

Além disso, ao acompanhar uma narrativa, treinamos a concentração, algo essencial em um mundo cheio de distrações.

Trecho de "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski

"O segredo da existência humana não está em viver, mas em saber para que se vive."

A leitura nos faz refletir e manter a mente ativa, exercitando a memória e o pensamento crítico.


2. Estímulo à Criatividade e Imaginação

Ler ativa diversas áreas do cérebro, incluindo aquelas responsáveis pela criatividade. Ao imaginar cenários e personagens, expandimos nossa capacidade criativa.

Livros de ficção, fantasia e ciência ajudam a desenvolver novas ideias e soluções inovadoras.

Trecho de "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll

"A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível."

A literatura nos ensina a explorar possibilidades e a pensar fora dos padrões.


3. Redução do Estresse e Ansiedade

Ler pode funcionar como uma forma de terapia. Um estudo da Universidade de Sussex mostrou que apenas seis minutos de leitura reduzem o estresse em até 68%.

Ao mergulhar em uma história, nos desligamos das preocupações do dia a dia e encontramos um refúgio mental.

Trecho de "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry

"É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou o dedo."

A literatura nos ajuda a colocar problemas em perspectiva e a encontrar conforto em tempos difíceis.


4. Prevenção de Doenças Neurodegenerativas

A leitura é um dos melhores exercícios para o cérebro. Pesquisas mostram que pessoas que leem regularmente têm menor risco de desenvolver Alzheimer e outras doenças cognitivas.

Isso acontece porque a leitura mantém as conexões neurais ativas, retardando a degeneração cerebral.

Trecho de "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade", de Yuval Noah Harari

"As pessoas que conseguem inventar novas realidades têm maior chance de dominar o mundo."

A leitura mantém o cérebro saudável e preparado para desafios.


5. Expansão do Vocabulário e da Inteligência

Ler aumenta o vocabulário e melhora a habilidade de comunicação. Estudos mostram que crianças e adultos que leem frequentemente possuem um repertório verbal mais rico.

Isso facilita a expressão de ideias e melhora o desempenho acadêmico e profissional.

Trecho de "Dom Casmurro", de Machado de Assis

"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

Cada livro lido adiciona novas palavras e expressões ao nosso conhecimento.


Conclusão

A leitura traz inúmeros benefícios para o cérebro. Ela fortalece a memória, melhora a criatividade, reduz o estresse e até protege contra doenças.

Ler é um investimento na saúde mental e na inteligência. Então, que tal começar um novo livro hoje?


O Significado Profundo da Letra de "Construção", de Chico Buarque



"Construção", lançada em 1971 por Chico Buarque, é uma obra-prima da Música Popular Brasileira que retrata a rotina e a tragédia de um trabalhador da construção civil. A canção destaca-se por sua estrutura lírica inovadora e pela crítica social implícita em seus versos.

Estrutura e Narrativa da Canção

A música é composta por três estrofes que narram o cotidiano de um operário. Cada estrofe apresenta variações sutis, especialmente nas palavras finais de cada verso, todas proparoxítonas, conferindo um ritmo marcante e repetitivo à canção. Essa escolha estilística reforça a mecanicidade e a alienação presentes na vida do trabalhador.

Primeira Estrofe

"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego."

Nesta estrofe, o trabalhador vive momentos cotidianos com intensidade, como se cada ação fosse a última. A repetição de "como se fosse" enfatiza a efemeridade da vida e a iminência da tragédia. A narrativa culmina na morte abrupta do operário, que "morreu na contramão atrapalhando o tráfego", simbolizando a indiferença da sociedade perante sua existência.

Segunda Estrofe

"Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público."

A segunda estrofe repete a estrutura da primeira, mas com alterações nas palavras finais de cada verso. Essas mudanças sutis criam novos significados e perspectivas, reforçando a ideia de rotina e a desumanização do trabalhador, que se torna quase uma máquina em seu labor diário.

Terceira Estrofe

"Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado."

Na terceira estrofe, a desumanização é ainda mais evidente. O amor é comparado a uma máquina, e as ações tornam-se automáticas, refletindo a alienação do indivíduo em uma sociedade que valoriza mais a produtividade do que a vida humana.

Análise Crítica e Contexto Social

"Construção" foi lançada durante o regime militar no Brasil, período marcado por censura e repressão. Chico Buarque utiliza-se de metáforas e de uma estrutura complexa para driblar a censura e criticar a exploração dos trabalhadores e a indiferença da sociedade perante suas condições. A morte do operário "atrapalhando o tráfego" simboliza como a vida humana é secundária em relação ao progresso e à rotina urbana.

A escolha de palavras proparoxítonas confere um ritmo truncado à canção, refletindo a rigidez e a repetitividade da vida operária. Além disso, a repetição de estruturas frasais reforça a ideia de ciclo e rotina, enquanto as variações nas palavras finais sugerem diferentes nuances e perspectivas sobre a mesma realidade.

Conclusão

"Construção" é uma canção que transcende o tempo, permanecendo relevante ao abordar temas universais como a alienação do trabalhador, a desumanização e a indiferença social. Através de uma estrutura lírica inovadora e de uma narrativa comovente, Chico Buarque convida o ouvinte a refletir sobre as injustiças sociais e a valorizar a vida humana em meio ao progresso desenfreado.


O Que "Tempo Perdido", do Legião Urbana, Nos Ensina Sobre a Vida?

 



"Tempo Perdido" é uma das canções mais emblemáticas da banda brasileira Legião Urbana, lançada em 1986 no álbum "Dois". Composta por Renato Russo, a música aborda reflexões profundas sobre a passagem do tempo, a efemeridade da vida e a urgência de viver o presente de forma plena.

Análise da Letra

A letra de "Tempo Perdido" é rica em metáforas e sentimentos que convidam o ouvinte a uma introspecção sobre sua própria existência. A seguir, destacamos trechos significativos da canção:

"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo"

Nesse trecho inicial, o eu lírico reconhece que o tempo passado é irrecuperável, mas enfatiza a abundância de tempo presente e futuro, sugerindo uma perspectiva otimista sobre as oportunidades que ainda estão por vir.

"Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder"

Aqui, há uma dualidade entre lembrar e esquecer, indicando a importância de refletir sobre o dia que passou, mas sem se prender ao passado. A expressão "sempre em frente" reforça a necessidade de seguir adiante, valorizando o presente e não desperdiçando tempo com arrependimentos.

"Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem, selvagem"

Este verso contrasta o "suor sagrado", símbolo do trabalho e esforço diário, com o "sangue amargo", possivelmente representando sofrimento ou violência. A valorização do trabalho honesto e da dedicação é destacada como algo belo e essencial na vida.

"Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos"

Nesse trecho, a imagem do "sol dessa manhã tão cinza" sugere esperança e beleza mesmo em dias difíceis. A metáfora da tempestade com a cor dos olhos castanhos pode indicar uma conexão profunda e pessoal com alguém, mostrando que mesmo as adversidades têm um aspecto familiar e íntimo.

"Então me abraça forte e diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo"

Aqui, o eu lírico busca conforto e reafirmação em um abraço, destacando a sensação de isolamento do mundo exterior e a criação de um espaço-tempo próprio, onde o que importa é o momento compartilhado.

"Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes acesas agora
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu"

Este verso aborda a dualidade entre coragem e vulnerabilidade. Embora o eu lírico afirme não temer a escuridão, pede para manter as luzes acesas, simbolizando a necessidade de clareza e segurança. Além disso, reflete sobre promessas não cumpridas e segredos ocultos, ressaltando a incerteza da vida.

"Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens"

No desfecho, há uma reafirmação de que, apesar dos desafios e do tempo que passou, nada foi em vão. A expressão "somos tão jovens" transmite uma sensação de renovação e esperança, independentemente da idade cronológica.

Lições para a Vida

"Tempo Perdido" nos ensina a valorizar o presente, reconhecendo que o passado não pode ser alterado, mas que o futuro está repleto de possibilidades. A música nos lembra da importância de não nos prendermos a arrependimentos e de vivermos cada momento com intensidade e propósito. Além disso, destaca a beleza do esforço diário e das relações pessoais que dão sentido à nossa existência.

Palavras-chave: Legião Urbana, Tempo Perdido, análise da letra, reflexão sobre a vida, passagem do tempo, Renato Russo.


Como a Literatura Pode Mudar Sua Vida



A literatura é mais do que uma forma de entretenimento. Ela pode transformar pensamentos, ampliar horizontes e influenciar profundamente nossas emoções.

Ao longo da história, livros inspiraram revoluções, ajudaram no crescimento pessoal e mudaram a forma como vemos o mundo. Mas como isso acontece?

Neste artigo, vamos explorar o impacto da literatura em nossas vidas e como ela pode moldar nossa mente e nosso coração.


A Literatura Como Espelho da Vida

A leitura nos permite enxergar a nós mesmos de forma diferente. Muitos livros refletem dilemas, sentimentos e experiências humanas.

Ao nos identificarmos com personagens, entendemos melhor nossas próprias emoções e desafios. Isso nos ajuda a desenvolver empatia e autoconhecimento.

Trecho de "Dom Casmurro", de Machado de Assis

"A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir."

Machado de Assis nos faz refletir sobre destino, escolhas e a complexidade das relações humanas.


A Leitura Expande Nossa Visão de Mundo

Livros nos transportam para culturas, épocas e perspectivas diferentes. Isso amplia nosso entendimento sobre o mundo e nos torna mais tolerantes e abertos a novas ideias.

A literatura nos ajuda a questionar crenças e enxergar realidades além da nossa.

Trecho de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa

"Viver é muito perigoso."

Guimarães Rosa nos mostra a complexidade da vida e os desafios de compreender a existência.


A Literatura e o Crescimento Pessoal

Além de conhecimento, a literatura oferece reflexões profundas que ajudam no desenvolvimento pessoal.

Livros podem ensinar sobre superação, resiliência e a busca pelo propósito. Obras filosóficas e de autoajuda são exemplos disso.

Trecho de "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."

Essa frase nos ensina a importância dos sentimentos e da sensibilidade na vida.


A Literatura Como Terapia

Muitas pessoas encontram conforto nos livros. A biblioterapia, prática que usa a leitura para auxiliar no bem-estar mental, tem sido estudada e aplicada em diversas áreas.

A leitura pode aliviar o estresse, reduzir a ansiedade e proporcionar novas perspectivas sobre problemas.

Trecho de "O Homem em Busca de um Sentido", de Viktor Frankl

"Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos."

Frankl nos ensina que encontrar sentido na dor pode transformar nossa forma de lidar com dificuldades.


A Literatura e a Criatividade

Ler estimula a criatividade. Ao conhecer diferentes estilos de escrita e narrativas, expandimos nossa imaginação e melhoramos nossa capacidade de expressão.

Livros nos inspiram a criar, escrever e inovar, seja na arte, na ciência ou no dia a dia.

Trecho de "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll

"Por vezes, penso em seis coisas impossíveis antes do café da manhã."

Essa frase nos incentiva a sonhar e explorar novas possibilidades.


Conclusão

A literatura transforma vidas. Ela nos ajuda a compreender o mundo, desenvolver empatia, crescer como indivíduos e até mesmo encontrar alívio emocional.

Ler é um ato poderoso, capaz de mudar nossa forma de pensar e sentir.

10 Livros Que Vão Expandir Sua Mente e Mudar Sua Vida


 

A leitura tem o poder de transformar nossa visão de mundo. Alguns livros oferecem reflexões profundas e expandem nossa mente para novas ideias.

Nesta lista, apresentamos dez livros que podem mudar sua forma de pensar. Eles abordam diferentes áreas, como filosofia, ciência, psicologia e literatura.


1. "1984" – George Orwell

"1984" é um clássico da literatura distópica. Orwell nos leva a um mundo onde a vigilância do governo é total e a liberdade de pensamento é proibida.

Trecho do livro:

"Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado."

Esse livro nos faz refletir sobre poder, manipulação da informação e controle social.


2. "O Poder do Hábito" – Charles Duhigg

Charles Duhigg explica como os hábitos influenciam nossas vidas. Ele mostra como podemos mudar padrões de comportamento para alcançar o sucesso.

Trecho do livro:

"Os hábitos não desaparecem. Eles são substituídos por outros."

Essa obra ensina como pequenas mudanças diárias podem transformar nossa produtividade e bem-estar.


3. "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade" – Yuval Noah Harari

Este livro narra a evolução da humanidade desde os tempos pré-históricos até a sociedade moderna.

Trecho do livro:

"A cooperação em larga escala é o segredo do nosso sucesso."

Harari nos ajuda a entender como crenças e estruturas sociais moldam a civilização.


4. "A Arte da Guerra" – Sun Tzu

Escrito há mais de 2.500 anos, esse livro é um tratado sobre estratégia e liderança.

Trecho do livro:

"A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar."

Embora seja sobre guerra, suas lições são aplicáveis a negócios e à vida pessoal.


5. "O Homem em Busca de um Sentido" – Viktor Frankl

Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, escreve sobre a importância do propósito na vida.

Trecho do livro:

"Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos."

Esse livro nos ensina sobre resiliência e a busca por significado.


6. "Crime e Castigo" – Fiódor Dostoiévski

Esse clássico da literatura russa explora culpa, moralidade e a psicologia humana.

Trecho do livro:

"Nada na vida humana é mais necessário do que o sofrimento."

Dostoiévski nos faz refletir sobre justiça e redenção.


7. "O Pequeno Príncipe" – Antoine de Saint-Exupéry

Este livro, aparentemente infantil, traz lições profundas sobre a vida e as relações humanas.

Trecho do livro:

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Essa obra nos lembra do valor da empatia e da simplicidade.


8. "Meditações" – Marco Aurélio

Marco Aurélio, um dos maiores imperadores romanos, escreveu reflexões sobre a vida e o estoicismo.

Trecho do livro:

"Você tem poder sobre sua mente, não sobre eventos externos. Perceba isso e encontrará força."

Esse livro ensina como manter a calma e a sabedoria diante dos desafios.


9. "A Revolução dos Bichos" – George Orwell

Uma fábula que critica regimes totalitários e o abuso de poder.

Trecho do livro:

"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros."

Orwell nos alerta sobre corrupção política e manipulação de massas.


10. "Os Miseráveis" – Victor Hugo

Uma história emocionante sobre redenção, justiça e compaixão.

Trecho do livro:

"A mais alta felicidade da vida é a certeza de sermos amados."

Victor Hugo nos faz refletir sobre esperança e transformação social.


Conclusão

Esses livros podem ampliar sua visão de mundo e transformar sua forma de pensar. Eles abordam temas essenciais, como liberdade, propósito e poder.


10 Poemas Que Vão Mudar Sua Forma de Ver o Mundo


 

A poesia tem o poder de transformar pensamentos, despertar emoções e oferecer novas perspectivas sobre a vida. Alguns poemas transcendem o tempo e tocam o coração de quem os lê.

A seguir, apresentamos dez poemas que podem mudar sua forma de ver o mundo. Incluímos trechos longos para que você possa sentir a profundidade das palavras.


1. "No Meio do Caminho" – Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade é um dos maiores poetas brasileiros. Seu poema "No Meio do Caminho" reflete sobre os desafios inevitáveis da vida.

Poema completo:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Este poema nos ensina que obstáculos fazem parte da jornada. O tom repetitivo reforça a ideia de que certas dificuldades marcam nossa trajetória.


2. "O Operário em Construção" – Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes escreve sobre a tomada de consciência de um operário que percebe sua força e importância na sociedade.

Trecho do poema:

Era ele que erguia casas
onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
ele subia com as casas
que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia
de sua grande missão:
não sabia, por exemplo,
que a casa de um homem é um templo
um templo sem religião.

Este poema destaca a importância da valorização do trabalhador e da consciência de classe. Ele nos faz refletir sobre justiça e igualdade.


3. "Tabacaria" – Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Fernando Pessoa, por meio de seu heterônimo Álvaro de Campos, escreveu "Tabacaria", um poema existencial profundo.

Trecho do poema:

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Esse poema questiona a identidade e a busca de sentido na vida. Pessoa expressa angústia e ao mesmo tempo o desejo de sonhar.


4. "Morte e Vida Severina" – João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto narra a jornada de Severino, um retirante nordestino que enfrenta a dura realidade do sertão.

Trecho do poema:

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.

Este poema nos confronta com a realidade da desigualdade e da luta diária dos menos favorecidos.


5. "Poema em Linha Reta" – Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Aqui, Álvaro de Campos critica a hipocrisia da sociedade, que esconde falhas e finge perfeição.

Trecho do poema:

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

Eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu, tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.

Esse poema desafia o leitor a aceitar sua vulnerabilidade e a enxergar a verdade por trás das aparências.


6. "José" – Carlos Drummond de Andrade

Este poema expressa o vazio existencial e a angústia diante das dificuldades da vida.

Trecho do poema:

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?

Drummond nos faz refletir sobre momentos em que nos sentimos perdidos, sem saber para onde ir.


7. "A Máquina do Mundo" – Carlos Drummond de Andrade

Drummond descreve uma revelação metafísica e filosófica sobre a existência.

Trecho do poema:

A máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Esse poema nos convida a refletir sobre o conhecimento e o sentido da vida.


8. "O Cântico Negro" – José Régio

José Régio celebra a liberdade e a individualidade neste poema.

Trecho do poema:

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí!

Este poema incentiva a autenticidade e a coragem de seguir um caminho próprio.


9. "Soneto da Fidelidade" – Vinicius de Moraes

Vinicius fala sobre um amor intenso e verdadeiro.

Poema completo:

De tudo, ao meu amor serei atento
antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
que mesmo em face do maior encanto
dele se encante mais meu pensamento.

Esse poema nos lembra da importância da entrega sincera no amor.


10. "O Navio Negreiro" – Castro Alves

Castro Alves denuncia a crueldade da escravidão.

Trecho do poema:

Era um sonho dantesco... o tombadilho
que das luzernas avermelha o brilho,
em sangue a se banhar.

Este poema nos faz refletir sobre o passado e a necessidade de justiça.


Conclusão

Esses poemas nos desafiam a pensar de novas formas. Seja por meio da denúncia, da reflexão existencial ou da celebração da vida, todos eles deixam marcas profundas.

Para saber mais

"Cálice" de Chico Buarque e Gilberto Gil: A Canção que Transformou Silêncio em Grito de Liberdade



O Contexto Histórico

Na década de 1970, o Brasil vivia sob a sombra de uma ditadura militar que cerceava liberdades e calava vozes dissidentes. Nesse cenário, a música surgiu como arma poderosa de resistência. "Cálice", composta por Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973, transcendeu a censura e se tornou um hino de luta, usando poesia e metáforas para desafiar a opressão. Seu título, um trocadilho entre "cálice" (símbolo religioso) e "cale-se", encapsula a dualidade entre o sagrado e o proibido. A música, proibida de ser gravada por anos, só foi lançada oficialmente em 1978, mas sua força já ecoava em apresentações clandestinas e na voz de quem ousava desafiar o regime.


Os Artistas: Vozes da Resistência

Chico Buarque: Conhecido por sua ironia fina e habilidade em driblar a censura, Chico já enfrentava restrições por suas letras politizadas. Ele usava pseudônimos, como Julinho da Adelaide, para publicar músicas que criticavam o regime. Sua obra é marcada por uma mistura de crítica social e lirismo, tornando-o um dos maiores nomes da música brasileira.


Gilberto Gil: Exilado em 1969 por seu ativismo político e cultural, Gil personificava a resistência. Sua música era uma ponte entre a tradição brasileira e a revolução, e sua figura pública representava a luta pela liberdade de expressão.

Juntos, Chico e Gil representavam a união da arte contra a tirania, e "Cálice" é um testemunho dessa parceria.


A Criação de "Cálice": Arte Sob Censura

A música foi composta em 1973, mas sua gravação foi impedida pela censura. A letra, repleta de metáforas religiosas e jogos de palavras, desafiava a vigilância do regime. O diálogo entre Chico e Gil na canção simboliza o conflito entre a voz que clama por liberdade e a que impõe o silêncio. Apesar das proibições, "Cálice" circulou em gravações piratas e apresentações ao vivo, tornando-se um símbolo da resistência cultural.


Análise da Letra: Metáforas e Dualidades


Refrão: "Pai, afasta de mim esse cálice" remete à agonia de Cristo no Jardim das Oliveiras, simbolizando o peso do silêncio imposto e a luta interna entre aceitar ou resistir à opressão.


**Versos como "Como beber dessa bebida amarga / Tragar a dor, engolir a labuta" aludem à opressão cotidiana e ao sofrimento de quem vive sob um regime autoritário.


O diálogo entre os artistas sugere um conflito interno: a voz que clama por liberdade versus a que impõe o silêncio, representando a luta entre o desejo de falar e o medo das consequências.


A imagem do cálice, além de remeter à religião, também evoca a ideia de um fardo a ser carregado, um símbolo da dor coletiva de um povo silenciado.


Impacto e Legado: Do Passado ao Presente

Apesar da censura, "Cálice" ecoou em shows clandestinos e cópias piratas. Tornou-se símbolo da resistência cultural, inspirando gerações. Sua releitura em 2018, durante o período de polarização política no Brasil, mostrou sua atualidade, provando que a luta pela liberdade é contínua. A música foi interpretada como um alerta contra a erosão da democracia e a importância de manter viva a memória dos anos de chumbo.


Relevância Contemporânea: Arte Como Protesto

Em tempos de ataques à liberdade de expressão, "Cálice" ensina que a arte subverte até os regimes mais autoritários. Sua mensagem ressoa em movimentos globais, onde a música ainda é escudo e espada contra a injustiça. A canção nos lembra que a arte é um espaço de resistência e que, mesmo em momentos de opressão, é possível encontrar formas criativas de expressar a verdade.


Conclusão: O Cálice que Nunca Se Esvazia

"Cálice" não é apenas uma canção, mas um testemunho da coragem de transformar dor em poesia. Chico e Gil nos lembram que, mesmo nas noites mais escuras, a arte acende fogueiras de esperança. Que seu legado inspire novos criadores a erguerem suas vozes e a lutarem por um mundo mais justo e livre.


Chamada para Ação

Ouça "Cálice" com novos ouvidos. Deixe-se levar pela força de suas palavras e reflita: como a arte pode ser instrumento de transformação hoje? Compartilhe este post e mantenha viva a chama da resistência. 🎶✊


sábado, fevereiro 01, 2025

A sabedoria de Khalil Gibran sobre a relação entre pais e filhos

Khalil Gibran, poeta e filósofo libanês, compartilha reflexões profundas sobre a criação dos filhos em seu livro "O Profeta". O poema "Os Filhos" oferece uma visão transformadora sobre o papel dos pais e a liberdade necessária para o crescimento das crianças.

O poema "Os Filhos" completo

Uma mulher, com uma criança nos braços, disse: "Fala-nos dos filhos."

E ele respondeu:

Vossos filhos não são vossos filhos. 

Eles são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. 

Vêm através de vós, mas não de vós. E, embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis ofertar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, 

Pois eles têm os seus próprios. Podeis dar abrigo a seus corpos, mas não às suas almas, 

Porque elas habitam o amanhã, Que vós não podeis visitar nem sequer em sonhos.

Podeis esforçar-vos para ser como eles, Mas não tenteis fazê-los à vossa imagem, Pois a vida não retrocede, nem se demora no ontem.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são lançados como flechas vivas. 

O arqueiro vê o alvo no infinito e vos enverga com Sua força 

Para que Suas flechas sigam velozes e longe. 

Que vossa flexão na mão do arqueiro seja por felicidade; 

Pois assim como ama a flecha que voa, Ele também ama o arco que permanece firme.

O verdadeiro significado do poema

Gibran nos lembra que os filhos não são uma extensão dos pais. Eles nascem com um propósito único e devem seguir seu próprio destino. Esse ensinamento nos convida a refletir sobre a importância da autonomia e do respeito à individualidade das crianças.

A função dos pais na vida dos filhos

Os pais desempenham um papel essencial na formação de caráter e valores dos filhos. No entanto, isso não significa moldá-los à sua própria imagem. Gibran reforça que as crianças têm seus próprios pensamentos e desejos, e devem ser incentivadas a explorar o mundo livremente.

Amar sem prender

O amor parental é essencial, mas não deve ser controlador. Segundo Gibran, os pais podem oferecer amor e proteção, mas não devem impor suas ideias ou restringir os sonhos dos filhos. Criar filhos com liberdade é um verdadeiro ato de amor.

O futuro pertence às crianças

Os filhos vivem no amanhã, enquanto os pais pertencem ao presente. Essa diferença de perspectivas nos ensina que os pais não devem projetar suas próprias frustrações ou expectativas nos filhos. Cada geração tem seus próprios desafios e conquistas.

A metáfora do arco e da flecha

A imagem do arco e da flecha representa a relação entre pais e filhos. O papel dos pais é dar suporte e estabilidade para que os filhos possam alçar voo e conquistar seus próprios caminhos. Segurar a flecha por tempo demais pode impedir seu destino.

A importância da liberdade no desenvolvimento infantil

Quando os pais tentam determinar cada passo dos filhos, acabam limitando seu crescimento. A educação deve ser baseada no encorajamento e na confiança, permitindo que as crianças desenvolvam autonomia e responsabilidade sobre suas escolhas.

Reflexões finais sobre o poema

O poema de Khalil Gibran nos ensina que a verdadeira paternidade está no equilíbrio entre amor e liberdade. Pais e mães devem nutrir e proteger seus filhos, mas sempre com o entendimento de que cada um tem seu próprio caminho a seguir.

Pontos principais do poema

  • Os filhos não pertencem aos pais.

  • Cada criança tem sua própria jornada.

  • O amor deve ser oferecido sem controle.

  • Os pais devem apoiar sem sufocar.

  • A felicidade está em ver os filhos crescerem livres.

Para saber mais

domingo, novembro 24, 2024

Poemas de Bertold Brecht




Alguns Poemas de Bertold Brecht

Bertolt Brecht é um dos poetas e dramaturgos mais influentes do século XX. Sua poesia é marcada por um profundo engajamento social e político, refletindo suas preocupações com a injustiça, a guerra e as desigualdades sociais. Brecht tinha uma habilidade única de usar a simplicidade e a clareza da linguagem para transmitir mensagens poderosas e provocadoras.

A poesia de Brecht não é apenas para ser lida, mas para ser sentida e refletida. Ele frequentemente empregava uma forma de escrita conhecida como "Verfremdungseffekt" ou efeito de distanciamento, que tinha como objetivo fazer com que os leitores e espectadores pensassem criticamente sobre os temas apresentados, em vez de serem passivamente entretidos.

Um exemplo clássico de sua poesia é o poema "Perguntas de um Trabalhador Que Lê", no qual ele questiona a glorificação dos grandes líderes e heróis históricos, destacando o papel e as contribuições dos trabalhadores anônimos e marginalizados.

Brecht nos lembra, através de sua poesia, da importância de questionar as narrativas dominantes e buscar uma compreensão mais profunda das realidades sociais e históricas.

E você, tem algum poema favorito de Brecht?


Os que lutam
"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."

O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia
a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo



Nada é impossível de Mudar
"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem
sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar."

Privatizado
"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence."


SOBRE A VIOLÊNCIA
A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contem
Ninguém chama de violento.

A tempestade que faz dobrar as betulas
É tida como violenta
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua?



DAS ELEGIAS DE BUCKOW
Viesse um vento
Eu poderia alcar vela.
Faltasse vela
Faria uma de pano e pau. FERRO
No sonho esta noite
Vi um grande temporal.
Ele atingiu os andaimes
Curvou a viga
A feita de ferro.
Mas o que era de madeira
Dobrou-se e ficou.

SE FÔSSEMOS INFINITOS
Fossemos infinitos
Tudo mudaria
Como somos finitos
Muito permanece.

QUEM SE DEFENDE
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legitima defesa. Mas
O mesmo parágrafo silencia
Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender.


PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia varias vezes destruída--
Quem a reconstruiu tanta vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu? Sobre quem
Triumfaram os Cesares? A decantada Bizancio
Tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo
na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?

Cada pagina uma vitoria.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.


EU SEMPRE PENSEI
E eu sempre pensei: as mais simples palavras
Devem bastar. Quando eu disser como é
O coração de cada um ficara dilacerado.
Que sucumbiras se não te defenderes
Isso logo veras.


NÃO NECESSITO DE PEDRA TUMULAR
Não necessito de pedra tumular, mas
Se necessitarem de uma para mim
Gostaria que nela estivesse:
Ele fez sugestões
Nós as aceitamos.
Por tal inscrição
Estaríamos todos honrados.

LENDO HORACIO
Mesmo o diluvio
Não durou eternamente.
Veio o momento em que
As águas negras baixaram.
Sim, mas quão poucos
Sobreviveram!

EPITÁFIO PARA GORKI
Aqui jaz
O enviado dos bairros da miséria
O que descreveu os atormentadores do povo
E aqueles que os combateram
O que foi educado nas ruas
O de baixa extração
Que ajudou a abolir o sistema de Alto a Baixo
O mestre do povo
Que aprendeu com o povo.

NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ
À memória de Carl von Ossietzky
Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não cedeu.
A boca do que preveniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta
Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.
Então a luta foi em vão?
Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.

A MÁSCARA DO MAL
Em minha parede há uma escultura de madeira japonesa
Máscara de um demônio mau, coberta de esmalte dourado
Copreensivo observo
As veias dilatadas da fronte, indicando
Como é cansativo ser mal

REFLETINDO SOBRE O INFERNO
Refletindo, ouço dizer, sobre o inferno
Meu irmão Shelley achou ser ele um lugar
Mais ou menos semelhante a Londres. Eu
Que não vivo em Londres, mas em Los Angeles
Acho, refletindo sobre o inferno, que ele deve
Assemelhar-se mais ainda a Los Angeles.

Também no inferno
Existem, não tenho dúvidas, esses jardins luxuriantes
Com as flores grandes como árvores, que naturalmente fenecem

Sem demora, se não são molhadas com água muito cara.
E mercados de frutas
Com verdadeiros montes de frutos,no entanto
Sem cheiro nem sabor.E intermináveis filas de carros
Mais leves que suas próprias sombras,mais rápidos
Que pensamentos tolos,autómoveis reluzentes,nos quais

Gente rosada,vindo de lugar nenhum,vai a nenhum lugar.
E casas construídas para pessoas felizes,portanto vazias
Mesmo quando habitadas.
Também as casas do inferno não são todas feias
Mas a preocupacão de serem lançados na rua
Consome os moradortes das mansões nao menos que
Os moradores do barracos.


NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO
Ficarão maiores
As propriedades dos que possuem
E a miséria dos que não possuem
As falas do guia*
E o silêncio dos guiados.

* FührerCOMO BEM SEI
Como bem sei
Os impuros viajam para o inferno
Através do céu inteiro.
São levados em carruagens transparentes:
Isto embaixo de vocês, lhe dizem
É o céu.
Eu sei que lhes dizem isso
Pois imagino
Que justamente entre eles
Há muitos que não o reconheceriam, pois eles
Precisamente
Imaginavam-no mais radiante

JAMAIS TE AMEI TANTO
Jamais te amei tanto, ma soeur
Como ao te deixar naquele pôr do sol
O bosque me engoliu, o bosque azul, ma soeur
Sobre o qual sempre ficavam as estrelas pálidas
No Oeste.
Eu ri bem pouco, não ri, ma soeur
Eu que brincava ao encontro do destino negro -
Enquanto os rostos atrás de mim lentamente
Iam desaparecendo no anoitecer do bosque azul.
Tudo foi belo nessa tarde única, ma soeur
Jamais igual, antes ou depois -
É verdade que me ficaram apenas os pássaros
Que à noite sentem fome no negro céu.

A MINHA MÃE
Quando ela acabou, foi colocada na terra
Flores nascem, borboletas esvoejam por cima...
Ela, leve, não fez pressão sobre a terra
Quanta dor foi preciso para que ficasse tão leve!


TAMBÉM O CÉU
Também o céu às vezes desmorona
E as estrelas caem sobre a terra
Esmagando-a com todos nós.
Isto pode ser amanhã.

O NASCIDO DEPOIS
Eu confesso: eu
Não tenho esperança.
Os cegos falam de uma saída. Eu Vejo.
Após os erros terem sido usados
Como última companhia, à nossa frente
Senta-se o Nada.

EPÍSTOLA SOBRE O SUICÍDIO
Matar-se
É coisa banal.
Pode-se conversar com a lavadeira sobre isso.
Discutir com um amigo os prós e os contras.
Um certo pathos, que atrai
Deve ser evitado.
Embora isto não precise absolutamente ser um dogma.
Mas melhor me parece, porém
Uma pequena mentira como de costume:
Você está cheio de trocar a roupa de cama, ou melhor
Ainda:
Sua mulher foi infiel
(Isto funciona com aqueles que ficam surpresos com essas coisas
E não é muito impressionante)
De qualquer modo
Não deve parecer
Que a pessoa dava
Importância demais a si mesmo

UM HOMEM PESSIMISTA
Um homem pessimista
É tolerante.
Ele sabe deixar a fina cortesia desmanchar-se na língua
Quando um homem não espanca uma mulher
E o sacrifício de uma mulher que prepara café para seu amado
Com pernas brancas sob a camisa -
Isto o comove.
Os remorsos de um homem que
Vendeu o amigo
Abalam-no, a ele que conhece a frieza do mundo
E como é sábio
Falar alto e convencido
No meio da noite.


SOUBE
Soube que
Nas praças dizem de mim que durmo mal
Meus inimigos, dizem, já estão assentando casa
Minhas mulheres põem seus vestidos bons
Em minha ante-sala esperam pessoas
Conhecidas como amigas dos infelizes.
Logo
Ouvirão que não como mais
Mas uso novos ternos
Mas o pior é: eu mesmo
Observo que me tornei
Mais duro com as pessoas.

QUEM NÃO SABE DE AJUDA
Como pode a voz que vem das casas
Ser a da justiça
Se os pátios estão desabrigados?
Como pode não ser um embusteiro aquele que
Ensina os famintos outras coisas
Que não a maneira de abolir a fome?
Quem não dá o pão ao faminto
Quer a violência
Quem na canoa não tem
Lugar para os que se afogam
Não tem compaixão.
Quem não sabe de ajuda
Que cale.


ACREDITE APENAS
Acredite apenas no que seus olhos vêem e seus ouvidos
Ouvem!
Também não acredite no que seus olhos vêem e seus
Ouvidos ouvem!
Saiba também que não crer algo significa algo crer!


COM CUIDADO EXAMINO
Com cuidado examino
Meu plano: ele é
Grande, ele é
Irrealizável.


OS ESPERANÇOSOS
Pelo que esperam?
Que os surdos se deixem convencer
E que os insaciáveis
Lhes devolvam algo?
Os lobos os alimentarão, em vez de devorá-los!
Por amizade
Os tigres convidarão
A lhes arrancarem os dentes!
É por isso que esperam!

NO SEGUNDO ANO DE MINHA FUGA
No segundo ano de minha fuga
Li em um jornal, em língua estrangeira
Que eu havia perdido minha cidadania.
Não fiquei triste nem alegre
Ao ver meu nome entre muitos outros
Bons e maus.
A sina dos que fugiam não me pareceu pior
Do que a sina dos que ficavam.


PARA LER DE MANHÃ E À NOITE
Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.

DE QUE SERVE A BONDADE
1
De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?
De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?
2
Em vez de serem apenas bons, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor: que a torne supérflua!
Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!
Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.

A Cruz de Giz
Eu sou uma criada. Eu tive um romance
Com um homem que era da SA.
Um dia, antes de ir
Ele me mostrou, sorrindo, como fazem
Para pegar os insatisfeitos.
Com um giz tirado do bolso do casaco
Ele fez uma pequena cruz na palma da mão.
Ele contou que assim, e vestido à paisana
anda pelas repartições do trabalho
Onde os empregados fazem fila e xingam
E xinga junto com eles, e fazendo isso
Em sinal de aprovação e solidariedade
Dá um tapinha nas costas do homem que xinga
E este, marcado com a cruz branca
é apanhado pela SA. Nós rimos com isso.
Andei com ele um ano, então descobri
Que ele havia retirado dinheiro
Da minha caderneta de poupança.
Havia dito que a guardaria para mim
Pois os tempos eram incertos.
Quando lhe tomei satisfações, ele jurou
Que suas intenções eram honestas. Dizendo isso
Pôs a mão em meu ombro para me acalmar.
Eu corri, aterrorizada. Em casa
Olhei minhas costas no espelho, para ver
Se não havia uma cruz branca.

As margens
Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem

O Vosso tanque General, é um carro forte
Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista
O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.
O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito-
Sabe pensar