Abaixo está a letra da música Desgarrados que foi vencedora de uma das edições do Festival Califórnia da que aborda brilhantemente o problema do êxodo rural no Rio Grande do Sul.
Desgarrados
Composição: Sérgio Napp e Mário Barbará
Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas
Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,
Carregam lixo, vendem revistas, juntam baganas
E são pingentes das avenidas da capital
Eles se escondem pelos botecos entre cortiços
E pra esquecerem contam bravatas, velhas histórias
E então são tragos, muitos estragos, por toda anoite
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho
Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos viram mundos, mas o que foi nunca mais será
Cevavam mate,sorriso franco, palheiro aceso
Viravam brasas, contavam casos, polindo esporas,
Geada fria, café bem quente, muito alvoroço,
Arreios firmes e nos pescoços lencos vermelhos
Jogo do osso, cana de espera e o pão de forno
O milho assado, a carne gorda, a cancha reta
Faziam planos e nem sabiam que eram felizes
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho
Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos viram mundos, mas o que foi nunca mais será
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A canção "Desgarrados" de Mário Bárbara e Sérgio Napp trata do tema do êxodo rural, abordando a vida de pessoas que deixaram suas origens no campo para buscar uma vida nas cidades. O texto evoca imagens vívidas e nostálgicas da vida no interior, contrastando com a realidade das pessoas que agora vivem nas ruas da capital.
No início, a letra descreve como esses migrantes urbanos se encontram nas ruas da cidade, realizando pequenos trabalhos e vivendo à margem da sociedade. Eles se tornam parte da paisagem urbana, mas também são "pingentes das avenidas da capital", sugerindo que suas histórias e lutas muitas vezes passam despercebidas.
O texto também explora a tentativa dessas pessoas de encontrar alívio em botecos e em suas próprias histórias, talvez para escapar da dura realidade em que se encontram. A referência aos "olhos abertos" e ao "longe é perto" sugere que eles ainda mantêm sonhos e esperanças, mesmo diante das dificuldades.
A repetição do refrão, que fala sobre ventos "desgarrados" carregados de saudade, ressalta a sensação de nostalgia e perda que permeia a canção. A ideia de que "o que foi nunca mais será" sugere que essas pessoas carregam consigo as lembranças de um passado melhor, mas sabem que suas vidas mudaram irrevogavelmente.
A canção é uma reflexão poética sobre as complexidades do êxodo rural, destacando a luta e a saudade daqueles que deixaram suas raízes para buscar uma vida nas cidades, e como suas histórias muitas vezes passam despercebidas na agitação urbana.