Passei Toda a Noite
Poesia de Fernando Pessoa
(10-7-1930)
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acôrdo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Este poema de Fernando Pessoa, intitulado "Passei Toda a Noite", retrata a intensidade e a complexidade do sentimento amoroso. O poema descreve o estado mental de alguém que passou a noite inteira acordado, pensando na pessoa amada. A figura dela está constantemente presente em sua mente, mas sua representação e significado variam à medida que ele a contempla de diferentes perspectivas.
O poema explora a ideia de que amar é pensar. O eu lírico está tão absorvido pelos pensamentos e recordações da amada que quase esquece a sensação do amor em si. Ele está imerso na contemplação e nas múltiplas facetas dessa pessoa, e essa experiência mental é o que o preenche.
A ambivalência emocional também é evidente no poema. O eu lírico descreve um desejo de encontrar a amada, mas, ao mesmo tempo, quase prefere não encontrá-la para evitar a dor da despedida. Esse conflito interno reflete a dualidade do amor, que pode ser ao mesmo tempo uma fonte de alegria e de sofrimento.
No final, o eu lírico declara que não sabe exatamente o que quer, exceto pensar na pessoa amada. Ele não pede nada além disso, não exige reciprocidade ou ações específicas, apenas quer continuar a pensar nela. O poema captura a natureza obsessiva e avassaladora do amor, onde a própria contemplação do ser amado é suficiente para preencher a alma.
No geral, este poema de Fernando Pessoa aborda de maneira poética a complexidade das emoções amorosas, destacando como o pensamento obsessivo e a contemplação profunda podem ser uma parte essencial da experiência de amar.