Google
 

sexta-feira, julho 13, 2012

Augusto dos Anjos Poemas - TREVAS



Trevas - Augusto dos Anjos


Haverá, por hipótese, nas geenas
Luz bastante fulmínea que transforme
Dentro da noite cavernosa e enorme
Minhas trevas anímicas serenas?!

Raio horrendo haverá que as rasgue apenas?!
Não! Porque, na abismal substância informe,
Para convulsionar a alma que dorme
Todas as tempestades são pequenas!

Há de a Terra vibrar na ardência infinda
Do éter em branca luz transubstanciado,
Rotos os nimbos maus que a obstruem a esmo...

A própria Esfinge há de falar-vos ainda
E eu, somente eu, hei de ficar trancado
Na noite aterradora de mim mesmo!


Comentário:

"Trevas," de Augusto dos Anjos, é um poema que mergulha nas profundezas da existência humana, explorando temas de angústia, desesperança e autoconhecimento. Anjos é conhecido por seu estilo sombrio e introspectivo, e este poema exemplifica bem suas características literárias.

O poema começa com uma pergunta retórica, considerando a possibilidade de uma luz poderosa que poderia transformar suas "trevas anímicas serenas." Esta imagem evoca a ideia de um conflito interno, onde a escuridão da alma é calma e constante, porém, há um anseio por alguma forma de redenção ou mudança.

No decorrer do poema, Anjos descreve a insignificância de tempestades externas em comparação com a vastidão da escuridão interna. Ele sugere que nada do mundo exterior, por mais poderoso que seja, pode realmente perturbar a alma que está em um estado de inquietude. Esta concepção reflete a profundidade do sofrimento interior, que não pode ser simplesmente dissipado por forças externas.

Na conclusão, ele se vê como prisioneiro de sua própria escuridão, mesmo quando a Terra e o éter se transformam. A referência à Esfinge, uma figura mítica conhecida por seus enigmas, intensifica o sentimento de mistério e perplexidade que envolve sua existência. Ele sugere que respostas universais podem ser alcançadas, mas ele, sozinho, permanecerá preso em sua própria noite aterradora.

"Trevas" é, assim, um poema que revela a complexidade do sofrimento humano e o desafio de encontrar luz dentro da própria escuridão. É uma obra que ressoa com qualquer um que já tenha enfrentado seus próprios demônios internos e buscado, mesmo que em vão, uma saída da escuridão pessoal.

Qual aspecto desse poema mais te chamou a atenção?