Google
 

terça-feira, janeiro 27, 2009

Hermogenes - escritor- poeta e pensador

Já tive a oportunidade de ler “Yoga para nervosos do Professor Hermógenes” e recomendo a qualquer pessoa que esteja buscando mais harmonia, equilíbrio e paz em sua vida.

Abaixo uma entrevista de Valéria Martins-Stycer com o professor Hermógenes.

 

Hermógenes, escritor, poeta e pensador

“Já tive a surpresa de ouvir de Chico Xavier que eu era seu escritor favorito. Paulo Coelho, Roberto Shinyashiki e Leonardo Boff já me disseram que me consideram um pensador. Porém, a mídia nunca me entrevistou como escritor. Quando vou a algum programa de televisão, os apresentadores fazem meia dúzia de perguntas sobre yoga e logo pedem que eu faça uma demonstração do “homem-borracha”. Me dá um desgosto... Porque, desse jeito, estou fazendo propaganda da casca da banana, enquanto gostaria de falar do miolo.” - Hermógenes 

Quem é Hermógenes? O nome diferente e o conteúdo das obras dá margem a acreditar que se trata de um espírito psicografado ou um filósofo da Grécia antiga. Nada disso. Nascido em Natal (RN) há mais de 80 anos, o filósofo, poeta, escritor e terapeuta José Hermógenes de Andrade Filho - conhecido como professor Hermógenes - vive no Rio de Janeiro.

Um dos seus principais livros é  Yoga para nervosos, publicado pela primeira vez em 1965, mas com conteúdo e linguagem absolutamente atuais. Um dos capítulos, por exemplo, caracteriza e ensina como driblar a síndrome do pânico, doença que atinge atualmente 3% da humanidade, e que na época ainda não tinha sido descrita pelos médicos. Apesar de ser mais reconhecido por seu trabalho de divulgação da yoga, hoje em dia o professor dá apenas uma aula por semana e tem uma rotina de escritor. Viúvo, pai de duas filhas e avô de 6 netos, ele mora sozinho num apartamento no bairro do Flamengo e encara a morte como “o sinal para iniciar o recreio”. “É um repouso para quem realmente se preparou para repousar. Quem não se preparou, vai continuar brigando do lado de lá”.

O conteúdo de Yoga para nervosos é absolutamente atual e científico apesar do livro ter sido escrito há mais de 40 anos. Como o senhor explica esse fenômeno?

Os livros clássicos falam de assuntos que estão presentes em todas as épocas. Escrevi Yoga para nervosos com a intenção de aliviar o sofrimento humano, que tem várias manifestações. Na academia, eu recebia muitas pessoas aflitas, preocupadas, angustiadas, estressadas, tensas que, em questão de semanas, começavam a mudar mostrando-se mais seguras e tranqüilas. Percebi uma grande força no meu trabalho e me propus a compartilhar. Não se trata apenas de ginástica. Sempre falei muito nas aulas, mostrando os caminhos para a pessoa mudar, criar um sentido para sua vida, um novo estilo de viver. A falta de sentido na vida é uma neurose gravíssima.

Atualmente, 3% da população mundial sofre de síndrome do pânico. Em Yoga para nervosos, publicado em 1965, o senhor caracteriza a doença e ensina como lidar com os sintomas antes dela ser reconhecida pelos médicos. Como foi isso? 

É verdade. Muitos alunos chegavam reclamando: “professor, eu sinto uma coisa terrível...”, “No dia em que a coisa me pega eu quase morro...”. Por isso, incluí no livro um capítulo chamado A Coisa, que explica a síndrome do pânico minuciosamente. Trata-se de um desequilíbrio psicossomático que submete a vítima a sentimentos muito dolorosos sobre os quais ele não tem o menor controle. O pânico nasce justamente da incapacidade de controlar esse estado tão perturbador. A principal estratégia para vencer a crise, conforme ensino no capítulo seguinte, é não se armar para se proteger. A tensão prepara o circuito para o pânico se alastrar. A solução é relaxar.

No primeiro capítulo do livro o senhor conta que, ao lançar a primeira edição, temeu ser criticado pelos médicos pelo fato de ser um leigo propondo soluções e terapias. Como a obra foi acolhida na época?

Eu me surpreendi com a boa acolhida. Acho que foi porque viram uma novidade proposta com muita convicção. Enquanto escrevia o livro, eu também tive o cuidado de me preparar para responder os médicos caso viessem a me criticar. Ao contrário disso, recebi cartas de muitos deles que se curaram depois praticar o que é proposto no livro.

O yoga foi redescoberto de uns 5 anos para cá, ou seja, entrou em moda porém com finalidade mais voltada para a forma física. O senhor acha que a parte filosófica está sendo esquecida pelos novos professores?

Sim. No meu primeiro livro previ que, um dia, o yoga conquistaria gente interessada em perpetuar a uma coisa que acaba: o corpo. Isso é uma insensatez. Quem usa yoga apenas como ginástica - o que é muito agradável e eficaz - está comendo a casca da banana e jogando o miolo fora.

O senhor teve graves problemas de saúde quando era criança e na década de 60. Quais foram esses problemas?

Quando criança eu tive paludismo, que é uma febre decorrente da picada de um mosquito. Já capitão do exército, fui atacado por tuberculose. Esta, quase me matou. O yoga e a medicina me resgataram.

Como e quando o yoga entrou na sua vida?

Naquela época (final da década de 1950), não se ouvia falar de yoga no Rio de Janeiro. Descobri e comprei numa livraria um livro em francês que mostrava o poder terapêutico do yoga e ensinava a praticar. Comecei a fazer escondido do médico. Os resultados foram maravilhosos. Foi aí que assumi o compromisso de, até o fim da minha vida, ensinar as pessoas a se curar através desse método. Foi com essa intenção que escrevi o meu primeiro livro Auto-perfeição com hatha yoga, que foi best-seller na época do lançamento e hoje está na 42º edição.

Como o senhor começou a dar aulas?

Através do livro, as pessoas tomaram conhecimento da minha proposta e passaram a me procurar para ter aulas. Num primeiro momento, recusei-me a transformar yoga em profissão. Eu ainda era membro do exército e me preocupava com viver, na prática, preceitos do yoga como a verdade e a desambição. Porém, um amigo de infância lá de Natal, construtor, alugou para mim uma sala no centro da cidade - a mesma há 42 anos. No início, eu era diretor, professor, faxineiro e secretário. Então, comecei a ter a alegria de ver as pessoas se libertarem dos seus limites, condicionamentos e do sofrimento. A academia se converteu em meu laboratório, de onde tirei fundamentos para escrever meus outros livros.

O senhor é um dos grandes vendedores de livros do Brasil. A que se deve esse sucesso?
 
Antes de escrever sobre yoga, tive a experiência de escrever livros didáticos sobre História do Brasil, Organização Social e Política e Moral e Cívica. Tomei a iniciativa de escrever porque era professor do Colégio Militar, lidava com esses temas e tinha idéias absolutamente progressistas em relação aos textos vigentes na época. Quebrei a cara. Bati de frente contra uma comissão conservadora que controlava essas publicações e meus livros não foram aprovados. Mas eu sempre soube me comunicar bem.

O senhor conta que em determinada época da vida experimentou um pouco da angústia perfeccionista dos escritores. Como foi isso?

Isso não passou, não. Toda vez que termino um texto fico lendo e relendo a fim de torná-lo mais claro, dar mais força ao que escrevi. É um trabalho de escritor, muito embora eu não me considere escritor.

Autores de best-sellers como Paulo Coelho, Roberto Shinyashiki e Leonardo Boff o consideram como mais do que um escritor, uma espécie de sábio ou pensador. O que acha disso?

É verdade. Já tive a surpresa de ouvir de Chico Xavier que eu era seu escritor favorito. Porém, a mídia nunca me entrevistou como escritor. Quando vou a algum programa de televisão, os apresentadores fazem meia dúzia de perguntas sobre yoga e logo pedem que eu faça uma demonstração do “homem-borracha”. Me dá um desgosto... Porque, desse jeito, estou fazendo propaganda da casca da banana, enquanto gostaria de falar do miolo. 

Quando o senhor iniciou sua obra poética e filosófica - composta hoje de 14 livros -- mostrou seus textos a um poeta que lhe aconselhou a burilar mais os versos. Como encarou essa crítica? 

Optei pelo conteúdo em vez da forma. Escrevo o que chamo de “Cintilações”. São frases que contém um pouco de doçura, encanto, talvez de beleza, talvez de poesia, talvez de desafio, que facilitam a germinação de sementes de reflexão e questionamentos. Um exemplo: “Enquanto caía, pensava o pingo de chuva: ‘que importa deixar o céu se estou indo fertilizar a terra?’”. Muitos apreciam os meus livros e conhecem o meu nome, mas não sabem se estou vivo ou morto. Uns pensam que eu sou um espírito comunicante. Outros, que eu sou um filósofo grego.

Suas influências vão de Jesus Cristo a Sai Baba, de Helena Blavatsky (fundadora da Teosofia) a Chico Xavier, do sufismo (filosofia do Islã) ao kardecismo. Como foi esse percurso na formação do seu pensamento? Como o senhor concilia mensagens filosóficas tão diferentes? Ou não são tão diferentes assim?

São diferentes na superfície. Na profundidade, é tudo a mesma coisa. Eu sou um farejador. Meu compromisso é com a busca. Sempre li e me interessei por todas as filosofias sem medo, sem preconceito, sem apego. A verdade é eterna e o topo da montanha é um só.

Na dedicatória do livro Canção Universal o senhor diz que, por amor, rezou para sua mãe morrer e, assim, libertar-se do corpo doente que lhe causava sofrimento. Foi difícil tomar essa iniciativa? Como o senhor encara a morte?

Não foi difícil porque ela estava sofrendo demais, com o corpo irrecuperável. Meu amor filial se manifestou através de uma oração para que ela fosse. Cheguei a dizer no ouvidinho dela: “esse corpo não lhe serve mais, mãe. Deixa esse corpo!” Algum materialista vai dizer que eu matei minha mãe. Não é nada disso. Hoje, eu faria a mesma coisa. Porque sei que a morte é uma transição necessária. A morte é o toque para iniciar o recreio. É um repouso para quem realmente se preparou para repousar. Quem não se preparou, vai continuar brigando do lado de lá.

O senhor diz que a yoga “é a viagem dos que, intoxicados de divertimento, acordados pelas abençoadas pancadas das vicissitudes, saudosos da ‘casa do Pai’, (...) se tornaram aspirantes ao Eterno”. O que quer dizer com isso?

Nós vivemos nesse mundo rendidos aos desejos, aos apegos, às rejeições, ao medo, e buscamos soluções na aquisição de bens materiais, gozar prazeres, subir na vida etc. Isso entretém a gente aqui. Quando conseguimos o que queremos, vem um prazer - momentâneo, porque nada é eterno. Se não conseguimos, vêm a tristeza e a depressão. Só existe uma solução: despertar para a verdade superior. Tudo o que está aqui é ilusório. Eu defino ‘infelicidade’ como ‘a pretensão de eternizar o provisório’. 

Como é sua rotina aos 82 anos?
 
Acordo cedo, às cinco horas. Faço algumas práticas de yoga, oração e meditação. Como meu desjejum vegetariano e vou trabalhar no computador. Dou duro sob o ponto de vista do primor e da dedicação. Depois do almoço tiro uma sonequinha e, à tarde, vou novamente para o computador. Nessa época, outono, lá pelas três e meia eu saio para caminhar entre as árvores do Parque do Flamengo. É uma caminhada holística, que todo mundo deveria praticar. Porque existe a caminhada mecânica, na qual o sujeito marcha com walkman, alheio a tudo. Eu procuro curtir a beleza da paisagem, prestar atenção aos detalhes, penetrar em mim mesmo. Quando volto, já está escuro. Tomo banho, lancho frutas e à noite, se me dá apetite, ainda trabalho um pouquinho. Senão, vou ver besteiras na televisão. Durmo mais ou menos às dez e meia.

Sua mensagem é essencialmente de paz, evolução e iluminação espiritual. Como o senhor encara o que acontece no mundo, principalmente depois do atentado terrorista de 11 de setembro? O senhor é otimista quanto ao futuro?

A Bíblia nos conta a história do Filho Pródigo, que começa com um afastamento da casa paterna. O rapaz sai pelo mundo com o bolso cheio de dinheiro, gastando com os amigos, procurando novos prazeres. Chega num ponto em que nada lhe resta. Aí, sente-se miseravelmente. Nessa hora, em meditação, conclui que todo o sofrimento ocorreu por causa do afastamento. O alívio estaria em se reaproximar e se juntar àquilo que ele tinha deixado. Ele volta feliz à casa do pai, que o acolhe muito bem. Porém, se não houvesse sofrido tanto, o danado ainda estaria se alienando. A humanidade está chegando nesse ponto crítico e começa a se preparar para voltar.

Entrevista cedida a: Valéria Martins-Stycer. 

Fonte:WWW.virtualbooks.com.br