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terça-feira, fevereiro 06, 2024

Poema Concreto - Tiago de Melo



O que tu tens e queres saber (porque te dói), não tem nome.

Só tem (mas vazio) o lugar que abriu em tua vida a sua própria falta.
 

A dor que te dói pelo avesso, perdida nos teus escuros,

É como alguém que come não o pão, mas a fome,

Sofres de não saber o que tens e falta

Num lugar que nem sabes,

Mas que é na tua vida

Quem sabe é em teu amor.

O que tu tens, não tens.

Esse poema reflete a dor e a ausência que sentimos quando algo que não conseguimos nomear está faltando em nossas vidas. O texto explora a ideia do vazio – não apenas como a ausência de algo concreto, mas como uma sensação que consome o indivíduo internamente.

Reflexão Sobre o Vazio e a Dor Interior

O verso inicial, "O que tu tens e queres saber (porque te dói), não tem nome", já sugere um sofrimento profundo e indefinido, uma dor que não pode ser explicada com palavras. Muitas vezes, o que nos aflige não é um objeto tangível ou uma situação clara, mas algo que ressoa no nosso íntimo, difícil de ser compreendido.

A Ausência que Preenche

A metáfora da falta ganha corpo ao longo do poema, principalmente na imagem de um lugar vazio que foi aberto pela própria falta: "Só tem (mas vazio) o lugar que abriu em tua vida a sua própria falta". Esse lugar vazio na vida do eu lírico parece se expandir e torna-se uma presença marcante, ainda que seja a ausência que o preenche.

A Dor Invertida e Insondável

O trecho "A dor que te dói pelo avesso, perdida nos teus escuros" sugere uma dor que vai além do sofrimento comum, algo que se volta para dentro, que ecoa nos cantos mais obscuros da alma. Esse sentimento é comparado a alguém que não consome o que é substancial (o pão), mas sim a própria fome, simbolizando um desejo insaciável e doloroso.

O Desconhecido que Falta

Finalmente, o poema expressa a angústia de não saber exatamente o que está faltando: "Sofres de não saber o que tens e falta / Num lugar que nem sabes". Esse desconhecido se mistura à vida, possivelmente relacionado ao amor ou às relações humanas, deixando o eu lírico sem respostas, apenas com a certeza de que o que ele sente, não pode possuir.

Uma Conclusão Filosófica

O verso final, "O que tu tens, não tens", encerra o poema com uma ideia paradoxal, refletindo a complexidade da dor existencial e do vazio. Mesmo quando se parece ter algo, sua essência pode escapar, mostrando que a verdadeira posse ou entendimento do que nos falta pode ser inalcançável.

Esse poema, denso em suas metáforas e introspectivo em seu conteúdo, oferece uma reflexão profunda sobre o sofrimento humano, o vazio e a dificuldade de compreender plenamente nossos próprios sentimentos e carências.

quinta-feira, dezembro 14, 2023

Os Conselhos de Khalil Gibran sobre nossos Filhos


A paternidade é uma jornada repleta de desafios, aprendizados e, acima de tudo, amor. Nesse caminho, encontramos inúmeras fontes de inspiração, e um dos sábios guias que iluminam esse percurso é o renomado poeta e filósofo libanês Khalil Gibran. Em sua obra atemporal, Gibran tece reflexões profundas sobre a relação entre pais e filhos, oferecendo conselhos que transcendem culturas e épocas.

A Essência da Paternidade em Khalil Gibran:

Khalil Gibran, nascido no Líbano em 1883, é conhecido por sua obra-prima "O Profeta", onde aborda uma ampla gama de temas humanos, incluindo a paternidade. Em seus textos, Gibran destila sabedoria sobre a arte de criar filhos, proporcionando insights que ressoam com pais de todas as eras.

A Sabedoria de Gibran em Poemas Marcantes:

Em seu poema "Os Filhos", Gibran escreve: "Vossos filhos não são vossos filhos./ São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma." Essas palavras iniciais são um convite à reflexão profunda sobre o papel dos pais. Gibran sugere que os filhos não pertencem aos pais, mas à própria vida, e que os pais são apenas os arcos que lançam seus filhos para o futuro.

A metáfora do arco e da flecha é particularmente poderosa. Gibran compreende que, como arcos, os pais devem ser flexíveis para permitir que seus filhos alcancem distâncias, mas ao mesmo tempo, precisam oferecer a estabilidade necessária para um lançamento bem-sucedido.

O Equilíbrio entre Liberdade e Orientação:

Gibran continua: "O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força para que suas flechas possam ir longe e rápidas." Aqui, o autor destaca a importância de orientar os filhos na direção certa, fornecendo-lhes os meios para atingir suas metas. A busca do infinito simboliza os sonhos e aspirações das crianças, e os pais são chamados a apoiar e encorajar essas jornadas.

Ao mesmo tempo, Gibran reconhece que essa orientação deve ser feita com respeito à individualidade das crianças. O arqueiro não impõe sua vontade, mas, ao invés disso, colabora com a força natural do arco para alcançar a máxima eficácia. Essa é uma lição crucial sobre equilibrar a orientação com o respeito pela autonomia dos filhos.

SEO: Gibran Khalil e Filhos na Jornada Literária:

Ao explorar as obras de Gibran Khalil sobre a paternidade, encontramos pérolas de sabedoria que transcendem as barreiras do tempo. Sua poesia ressoa com os pais de hoje, oferecendo insights valiosos sobre como equilibrar a orientação e a liberdade na criação dos filhos.

A influência de Gibran Khalil na literatura é inegável, e seus conselhos sobre a paternidade são uma fonte de inspiração para os pais modernos. Ao aplicar suas ideias sobre o arco e a flecha, os pais podem encontrar um guia sólido para nutrir o potencial único de seus filhos, permitindo-lhes voar para o futuro com confiança.

Em conclusão, mergulhar na obra de Khalil Gibran é como receber conselhos de um sábio ancestral sobre a arte da paternidade. Suas palavras ressoam com verdade e empatia, lembrando-nos de que os filhos são seres independentes que, com amor e orientação adequada, podem atingir alturas extraordinárias. Gibran Khalil permanece, assim, como um farol literário, iluminando o caminho dos pais em sua nobre jornada de criar e nutrir os seus filhos.


Fique com o texto sobre nossos filhos, extraído do Livro O Profeta de Gibran Khalil Gibran. Esse texto é uma rica fonte de reflexão sobre amor a nossos filhos:

Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável."



 
 

sábado, setembro 23, 2023

A Profundeza do Amor: Inspirado no poeta Khalil Gibran


Se você é um amante da literatura, então, certamente já se deparou com as palavras inspiradoras de Khalil Gibran. Suas obras são como rios profundos, cujas águas carregam a sabedoria de séculos e a beleza intemporal do amor. Neste artigo, mergulharemos nas profundezas do amor, explorando como Khalil Gibran o descreveu magistralmente e como essa mensagem ressoa em nossas almas até hoje.



O Amor como um Rio Eterno

Em seu trabalho icônico, "O Profeta", Khalil Gibran pinta o amor como um rio eterno que flui incessantemente. Essa metáfora é uma janela para a compreensão de como o amor é uma força que permeia nossas vidas, constantemente fluindo e nos moldando.

Às vezes, o amor começa como um riacho suave e discreto, quase imperceptível em nossas vidas. Pode ser um sentimento tímido que nasce em nosso coração quando conhecemos alguém especial pela primeira vez. É um início modesto, mas como um riacho que serpenteia pela paisagem, o amor cresce à medida que nutrimos esse sentimento, tornando-se um rio profundo e majestoso que corta a terra em sua trajetória.

O Alimento da Alma

O amor é, sem dúvida, o alimento da alma. É a essência que nos nutre e nos sustenta. Assim como precisamos de alimento físico para sobreviver, nosso espírito anseia pelo alimento do amor para prosperar. Quando amamos e somos amados, experimentamos uma sensação de plenitude que não pode ser encontrada em nenhum outro lugar.

O amor é a centelha que acende nossos corações e nos faz sentir vivos. É o que nos impulsiona a buscar a conexão com os outros, a compartilhar nossas alegrias e tristezas, nossos triunfos e derrotas. É uma fonte inesgotável de inspiração, criatividade e força.



O Amor como Jornada e Desafio

Assim como o rio encontra obstáculos em seu caminho, o amor também enfrenta barreiras e testes. Os desafios do amor podem surgir na forma de desentendimentos, diferenças de personalidade ou circunstâncias inesperadas. No entanto, é a força do amor que nos dá a coragem de superar esses obstáculos.

O amor nos ensina a encontrar maneiras de contornar os desafios ou até mesmo transformá-los em degraus em nossa jornada. Esses momentos de dificuldade são oportunidades para crescermos, tanto como indivíduos quanto como casal. Através do amor, aprendemos a ser pacientes, compreensivos e a praticar o perdão.

A Dança Delicada do Amor

O amor é como uma dança delicada, onde dois seres se unem em harmonia. É um compromisso de aceitar o outro em sua totalidade, com todas as suas imperfeições e qualidades. É um ato de dar e receber, de compartilhar e crescer juntos.

Essa dança requer equilíbrio e sintonia. Às vezes, um parceiro lidera, enquanto o outro segue, e vice-versa. É uma jornada de descoberta mútua, onde cada passo na dança revela mais sobre nós mesmos e sobre o nosso parceiro. É uma jornada que requer paciência, compreensão e, acima de tudo, amor.





A Busca pela União de Almas

Assim como o rio finalmente encontra seu destino no vasto oceano, o amor encontra sua plenitude na união de almas afins. A busca pela união de corações é o ímpeto que nos impulsiona, nos inspira a superar todas as adversidades e a trilhar o caminho da eternidade juntos.

A Eterna Sabedoria do Amor

Khalil Gibran nos presenteou com palavras que transcendem o tempo e ressoam profundamente em nossos corações. Sua visão do amor como um rio eterno, como o alimento da alma e como uma jornada de desafios e descobertas é uma lição atemporal que continua a inspirar gerações.

À medida que exploramos suas palavras, somos lembrados da importância de nutrir o amor em nossas vidas, de abraçar os desafios como oportunidades de crescimento e de buscar a união de almas. O amor, como Khalil Gibran nos ensina, é uma força transformadora que nos conecta uns aos outros e ao universo.

Então, permita-se mergulhar nas profundezas do amor, assim como um rio que flui incessantemente, e descubra a beleza e a sabedoria que ele tem a oferecer.

sexta-feira, setembro 07, 2012

Em Torno da Felicidade - pelo espirito Andre Luiz




Em matéria de felicidade convém não esquecer que nos transformamos sempre naquele que amamos.

Quem se aceita como é, doando de si à vida o melhor que tem, caminha mais facilmente para ser feliz como espera ser.

A nossa felicidade será naturalmente proporcional em relação à felicidade que fizermos para os outros.

A alegria do próximo começa muitas vezes no sorriso que você lhe queira dar.

A felicidade pode exibir-se, passear, falar e comunicar-se na vida externa, mas reside com endereço exato na consciência tranqüila.

Se você aspira a ser feliz e traz ainda consigo determinados complexos de culpa, comece a desejar a própria libertação, abraçando no trabalho em favor dos semelhantes o processo de reparação desse ou daquele dano que você haja causado em prejuízo de alguém.

Estude a si mesmo, observando que o auto-conhecimento traz humildade e sem humildade é impossível ser feliz.

Amor é a força da vida e trabalho vinculado ao amor é a usina geradora da felicidade.

Se você parar de se lamentar, notará que a felicidade está chamando o seu coração para vida nova.

Quando o céu estiver em cinza, a derramar-se em chuva, medite na colheita farta que chegará do campo e na beleza das flores que surgirão no jardim.

Autor :  André Luiz / Psicografado por Chico Xavier

segunda-feira, julho 16, 2012

Autoperdao - Joana de Angelis e Divaldo Franco

Toda vez em que a culpa não emerge de maneira consciente, são liberados conflitos que a mascaram, levando a inquietações e sofrimentos sem aparente causa.
Todas as criaturas cometem erros de maior ou menor gravidade, alguns dos quais são arquivados no inconsciente, antes mesmo de passarem por uma análise de profundidade em tomo dos males produzidos, seja de referência à própria pessoa ou a outrem.

Cedo ou tarde, ressumam de maneira inquietadora, produzindo mal-estar, inquietação, insatisfação pessoal, em caminho de transtorno de conduta.
A culpa é sempre responsável por vários processos neuróticos, que deve ser enfrentada com serenidade e altivez.



Ninguém se pode considerar irretocável enquanto no processo da evolução.
Mesmo aquele que segue retamente o caminho do bem está sujeito a alternância de conduta, tendo em vista os desafios que se apresentam e o estado emocional do momento.
Há períodos em que o bem-estar a tudo enfrenta com alegria e naturalidade, enquanto que, noutras ocasiões, os mesmos incidentes produzem distúrbios e reações imprevisíveis.
Todos podem errar, e isso acontece amiúde, tendo o dever de perdoar-se, não permanecendo no equívoco, ao tempo em que se esforcem para reparar o mal que fizeram.
Muitos males são ao próprio indivíduo feitos, produzindo remorso, vergonha, ressentimento, sem que haja coragem para revivê-los e liberar-se dos seus efeitos danosos.






Uma reflexão em tomo da humanidade de que cada qual é possuidor, permitir-lhe-á entender que existem razões que o levam a reagir, quando deveria agir, a revidar, quando seria melhor desculpar, a fazer o mal, quando lhe cumpriria fazer o bem...
A terapia moral pelo autoperdão impõe-se como indispensável para a recuperação do equilíbrio emocional e o respeito por si mesmo.
Torna-se essencial, portanto, uma reavaliação da ocorrência, num exame sincero e honesto em torno do acontecimento, diluindo-o racionalmente e predispondo-se a dar-se uma nova oportunidade, de forma que supere a culpa e mantenha-se em estado de paz interior.
O autoperdão é essencial para uma existência emocional tranquila.
Todos têm o dever de perdoar-se, buscando não reincidir no mesmo compromisso negativo, desamarrando-se dos cipós constringentes do remorso.
Seja qual for a gravidade do ato infeliz, é possível repará-lo quando se está disposto a fazê-lo, recobrando o bom humor e a alegria de viver.




Em face do autoperdão, da necessidade de paz interior inadiável, surge o desafio do perdão ao próximo, àquele que se tem transformado em algoz, em adversário contínuo da paz.
Uma postura psicológica ajuda de maneira eficaz e rápida o processo do perdão, que consiste na análise do ato, tendo em vista que o outro, o perseguidor, está enfermo, que ele é infeliz, que a sua peçonha caracteriza-lhe o estado de inferioridade.
Mediante este enfoque surge um sentimento de compaixão que se desenvolve, diminuindo a reação emocional da revolta ou do ódio, ou da necessidade de revide, descendo ao mesmo nível em que ele se encontra.
O célebre cientista norte-americano Booker T. Washington, que sofreu perseguições inomináveis pelo fato de ser negro, e que muito ofereceu à cultura e à agricultura do seu país, asseverou com nobreza: Não permita que alguém o rebaixe tanto a ponto de você vir a odiá-lo.
Desejava dizer que ninguém deve aceitar a ojeriza de outrem, o seu ódio e o seu desdém a ponto de sintonizar na mesma faixa de inferioridade.
Permanecer acima da ofensa, não deixar-se atingir pela agressão moral, constituem o antídoto para o ódio de fácil irrupção.




Sem dúvida, existem os invejosos, que se comprazem em denegrir aquele a quem consideram rival, por não poderem ultrapassá-lo; também enxameiam os odientos, que não se permitem acompanhar a ascensão do próximo, optando por criar-lhes todos os embaraços possíveis; são numerosos os poltrões que detestam os lidadores, porque pensam que os colocam em postura inferior e se movimentam para dificultar-lhes a marcha ascensional; são incontáveis aqueles que perderam o respeito por si mesmos e auto-realizam-se agredindo os lidadores do dever e da ordem, a fim de nivelá-los em sua faixa moral inferior...
Deixa que a compaixão tome os teus sentimentos e envolve-os na lã da misericórdia, quanto gostarias que assim fizessem contigo, caso ainda te detivesses na situação em que eles estagiam.Perceberás que um sentimento de compreensão, embora não de conivência com o seu erro, tomará conta de ti, impulsionando-te a seguir adiante, sem que te perturbes.
Sob o acicate desses infelizes, aos quais tens o dever de compreender e de perdoar, porque não sabem o que fazem, ignorando que a si mesmos se prejudicam, seguirás confiante e invencível no rumo da montanha do progresso.
Ninguém escapa, na Terra, aos processos de sofrimento infligido por outrem, em face do estágio espiritual que se vive no planeta e da população que o habita ainda ser constituída por Espíritos em fases iniciais de crescimento intelecto-moral.
Não te detenhas, porque não encontres compreensão, nem porque os teus passos tenham que enfrentar armadilhas e abismos que saberás vencer, caso não te permitas compartilhar das mesmas atitudes dos maus.




Chegarás ao termo da jornada vitoriosamente, e isso é o que importa.
O eminente sábio da Grécia, Sólon, costumava dizer que nada pior do que o castigo do tempo, referindo-se às ocorrências inesperadas e inevitáveis da sucessão dos dias. Nunca se sabe o que irá acontecer logo mais e como se agirá.
Dessa forma, faze sempre todo o bem, ajuda-te com a compaixão e o amor, alçando-te a paisagens mais nobres do que aquelas por onde deambulas por enquanto.
Perdoa-te, portanto, perdoando, também, ao teu próximo, seja qual for o crime que haja cometido contra ti.



Joana de Ângelis - Divaldo P. Franco

sexta-feira, novembro 18, 2011

Poesia Cecilia Meireles - Renúncia



Renúncia

 RAMA das minhas árvores mais altas,

deixa ir a flor! que o tempo, ao desprendê-la,

roda-a no molde de noites e de albas

onde gira e suspira cada estrêla.

Deixa ir a flor! deixa-a ser asa, espaço,

ritmo, desenho, música absoluta,

dando e recuperando o corpo esparso

que, indo e vindo, se observa, e ordena, e escuta...

 

Falo-te, por saber o que é perder-se.

Conheço o coração da primavera,

e o dom secreto do seu sangue verde,

que num breve perfume existe e espera.

Vertí para infinitos desamparos

tudo que tive no meu pensamento.

Por onde anda? No abismo. Dada ao vento...

Era a flor dos instantes mais amargos.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Poesia Cecilia Meireles - Conveniencia


 

CONVENIÊNCIA

 

CONVÉM que o sonho tenha margens de nuvens rápidas

e os pássaros não se expliquem, e os velhos andem pelo sol,

e os amantes chorem, beijando-se, por algum infanticídio

Convém tudo isso, e muito mais, e muito mais...

E por êsse motivo aqui vou, como os papéis abertos

que caem das janelas dos sobrados, tontamente...

 

Depois das ruas, e dos trens, e dos navios,

encontrarei casualmente a sala que afinal buscava,

e o meu retrato, na parede, olhará para os olhos que levo.

E encolherei meu corpo nalguma cama dura e fria.

(Os grilos da infância estarão cantando dentro da erva...)

E eu pensarei: «Que bom! nem é preciso respirar!...»

 

(do livro Viagem, de Cecília Meirelles)

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Extincao do Mal - CHico Xavier e Bezerra de Menezes



Extinção do Mal

Livro: Brilhe vossa Luz / Bezerra de Menezes & Francisco Cândido Xavier

 

Na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo.

Por isso, a condenação não entra em linha de conta nas manifestações da Misericórdia Divina.

Nada de anátemas, gritos, baldões ou pragas.

A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem.

A propósito, meditemos.

O Senhor corrige:

 

a ignorância: com a instrução;

o ódio: com o amor;

a necessidade: com o socorro;

o desequilíbrio: com o reajuste;

a ferida: com o bálsamo;

a dor: com o sedativo;

a doença: com o remédio;

a sombra: com a luz;

a fome: com o alimento;

o fogo: com a água;

a ofensa: com o perdão;

o desânimo: com a esperança;

a maldição: com a benção.

Somente nós, as criaturas humanas, por vezes, acreditamos que um golpe seja capaz de sanar outro golpe.

Simples ilusão.

O mal não suprime o mal.

Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.

 

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Poemas de Mario Quintana - Poesia - Frases - Pensamentos




Poemas, Poesias, Sonetos, Pensamentos e Frases de Mário Quintana

Carlos Drummond de Andrade é um dos mais importantes poetas brasileiros, amplamente reconhecido por sua habilidade em explorar a complexidade da condição humana, a angústia existencial e a relação do indivíduo com a sociedade. Sua poesia, marcada pelo uso preciso da linguagem e pela profunda reflexão sobre o cotidiano, oscila entre o surrealismo e o concreto, sempre com uma crítica implícita às convenções sociais e políticas.

Em obras como "No Meio do Caminho" e "A Máquina do Mundo", Drummond utiliza metáforas complexas para expressar a fragmentação do eu e o dilema de existir em um mundo aparentemente absurdo e impessoal. Sua escrita, por vezes introspectiva, também se volta para questões universais, como o amor, a solidão e o medo do desconhecido. Ele transforma situações aparentemente banais em momentos de grande tensão emocional e filosófica, o que confere um caráter universal a sua obra.

Ao mesmo tempo, Drummond mantém uma ligação estreita com sua terra natal, Minas Gerais, e com as tensões políticas de seu tempo, especialmente durante o regime militar no Brasil. Sua poesia se tornou uma forma de resistência, não apenas contra a repressão política, mas também contra a opressão da linguagem e do pensamento conformista.

A obra de Drummond ainda é estudada e admirada por sua habilidade única de dialogar com o leitor de diferentes formas, seja pela sua crítica velada ou pela forma como ele consegue dar voz ao cotidiano, às dores e aos desejos humanos mais universais.

Se você se interessa pela análise mais profunda de sua obra, há muitos estudos acadêmicos e discussões literárias que exploram esses aspectos.

Amor

Amar:

Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.

Amor
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo

Quiseste expor teu coração a nu.
E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio!

POEMINHA SENTIMENTAL


O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

DO AMOROSO ESQUECIMENTO

Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

'Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso.. de um gesto.. um olhar...

Aqui a poesia de Mário Quintana dos fala do amor



AMOR É SÍNTESE


Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...

Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

EU QUERO É TEU CALOR ANIMAL

"Mas onde já se ouviu falar num amor á distância,
Num teleamor ?!
Num amor de longe…
Eu sonho é um amor pertinho…
E depois
Esse calor humano é uma coisa que todos - até os executivos têm
É algo que acaba se perdendo no ar
No vento
No frio que agora faz…
Escuta!
O que eu quero
O que eu amo
O que eu desejo em ti
É teu calor animal… "

"Amar: Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro".

Queria Ter A Certeza....,Sempre...,
Que Me Tens No Seu Coração.!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Nunca diga te amo se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.

Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti.

A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo.



DA FELICIDADE

Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

DA DISCRIÇÃO

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...

 

Repare na genialidade do poeta gaúcho Mário Quintana ao com simplicidade sobre o cotidiano sua poesia..

Canção do dia de sempre


Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

SIMULTANEIDADE

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

Três amores... Quem me deu
Tão estranha sorte assim?
Três amores, tenho-os eu
E nenhum me tem a mim!



Nesta poesia Mário Quintana nos fala do tempo:

O tempo


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...


Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Somos donos de nossos atos,
mas não donos de nossos sentimentos;
Somos culpados pelo que fazemos,
mas não somos culpados pelo que sentimos;
Podemos prometer atos,
mas não podemos prometer sentimentos...
Atos são pássaros engailoados,
sentimentos são pássaros em vôo.

Estes foram alguns poemas, poesias, textos do poeta Mário Quintana

quarta-feira, janeiro 12, 2011

O Amor é uma Falácia



Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto – era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha – imaginem só – dezoito anos.

Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom sujeito,  Compreendam, mas sem nada lá
em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar a alguma idiotice só porque os outros a segue, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez. Pettey, no entanto, não pensava assim.

      Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: apendicite.

- Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o médico.

- Marmota – balbuciou ele.

- Marmota? – disse eu, interrompendo a minha corrida.

- Quero um casaco de pele de marmota – disse.

Percebi que o seu problema não era físico, mas mental.

- Por que você quer um casaco de pele de marmota?

- Eu devia ter adivinhado – gritou ele, socando a cabeça – Devia ter adivinhado que eles voltariam com o Charleston. Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar um casaco de pele de marmota!

- Quer dizer – perguntei incrédulo – que estão mesmo usando Casacos de pele de marmota outra vez?

- Todas as pessoas importantes da universidade estão. Onde você tem andado?

- Na biblioteca – respondi, citando um lugar não freqüentado pelas pessoas importantes da Universidade.

Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto.

- Preciso conseguir um casaco de pele de marmota- disse, exaltado – Preciso mesmo.

- Por que, Pettey? Veja a coisa racionalmente. Casacos de pele de marmota são anti-higiênicos, são pesados, são feios, são …

- Você não compreende – interrompeu ele com impaciência – é o que todos estão usando. Você não quer andar na moda?

- Não – respondi, sinceramente.

- Pois eu sim – declarou ele – daria tudo para ter um casaco de pele de marmota. Tudo.

Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou a funcionar a todo vapor.

- Tudo? – perguntei, examinando seu rosto com olhos semicerrados.

- Tudo – confirmou ele, em tom dramático.

Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar um casaco de pele de marmota. Meu pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora dentro de um baú, no sótão da casa. E, também por acaso, Petey tinha algo que eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua namorada, Polly Spy.

Eu há muito desejava Polly Spy. Apresso-me a esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A moça, não há dúvida, despertava emoções, mas eu não era daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais.

Cursava eu o primeiro ano de direito. Dali a algum tempo, estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem a importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um advogado. Os advogados de sucesso, segundo as minhas observações, eram quase sempre casados com mulheres bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Polly preenchia perfeitamente estes requisitos.

Era bonita. Suas proporções ainda não eram clássicas, mas eu tinha certeza de que o tempo se encarregaria de fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá.

Graciosa também era. Por graciosa quero dizer cheia de graças sociais. Tinha porte ereto, a naturalidade no andar e a elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. Á mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no barzinho da escola comendo a especialidade da casa – um sanduíche que continha pedaços de carne assada, molho, castanhas e repolho – sem nem sequer umedecer os dedos.

Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o oposto. Mas eu confiava em que, sob a minha tutela, haveria de tornar-se brilhante. Pelo menos valia a pena tentar. Afinal de contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita.

- Petey – perguntei – você ama Polly Spy?

- Eu acho que ela é interessante – respondeu – mas não sei se chamaria isso de amor. Por que?

- Você – continuei – tem alguma espécie de arranjo formal com ela? Quero dizer, vocês saem exclusivamente um com o outro?

- Não. Nos vemos seguidamente. Mas saímos os dois com outros também. Por que?

- Existe alguém – perguntei – algum outro homem que ela goste de maneira especial?

- Que eu saiba não. Por que?

Fiz que sim com a cabeça, satisfeito.

- Em outras palavras, a não ser por você, o campo está livre, é isso?

- Acho que sim. Aonde você quer chegar?

- Nada, anda – respondi com inocência, tirando minha mala de dentro do armário.

- Onde é que você vai? – quis saber Pettey.

- Passar o fim de semana em casa.

Atirei algumas roupas dentro da mala.

- Escute – disse Pettey, apegando-se com força ao meu braço – em casa, será que você não poderia pedir dinheiro ao seu pai, e me emprestar para comprar um casaco de pele de marmota?

- Posso até fazer mais do que isso – respondi, piscando o olho misteriosamente. Fechei a mala e saí.

- Olhe – disse a Pettey, ao voltar na segunda feira de manhã. Abri a mala e mostrei o enorme objeto cabeludo e fedorento que meu pai usara ao volante de seu Stutz Beacat em 1955.

- Santo Pai – exclamou Pettey com reverência. Passou as mãos no casaco e depois no rosto.

- Santo Pai – repetiu, umas quinze ou vinte vezes.

- Você gostaria de ficar com ele? – perguntei.

- Sim – gritou ele, apertando a coisa contra o peito. Em seguida, seus olhos assumiram um ar precavido. – O que quer em troca?

- A sua namorada – disse eu, não desperdiçando palavras.

- Polly? – sussurrou Pettey, horrorizado. – Você quer a Polly?

- Isso mesmo.

Ele jogou a jaqueta pra longe.

- Nunca – declarou resoluto.

Dei de ombros.

- Tudo bem. Se você não quer andar na moda, o problema é seu.

Sentei-me numa cadeira e fingi que lia um livro, mas continuei espiando Pettey, com o rabo dos olhos. Era um homem partido
em dois. Primeiro olhava para o casaco com a expressão de uma criança desamparada diante da vitrine de uma confeitaria. Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, altivo. Depois voltava a olhar para o casaco. Com uma expressão ainda maior de desejo no rosto. Depois virava-se outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e vinha, o desejo ascendendo, a resolução descendendo. Finalmente, não se virou mais: ficou olhando para o casaco com pura lascívia.

- Não é como se eu estivesse apaixonado por Polly – balbuciou. – Ou mesmo namorando sério, ou coisa parecida.

- Isso mesmo – murmurei.

- Afinal, Polly significa o que para mim, ou eu pra ela?

- Nada – respondi.

- Foi uma coisa banal. Nos divertimos um pouco. Só isso.

- Experimente – disse eu.

Ele obedeceu. O casaco caía até os pés. Ele parecia um monte de marmotas mortas

- Serve perfeitamente – disse, contente.

Levantei-me da cadeira e perguntei, estendendo a mão.

- Negócio feito?

Ele engoliu a seco.

- Feito – disse, e apertou a minha mão.

Saí com Polly pela primeira vez na noite seguinte.

O Primeiro programa teria o caráter de pesquisa preparatória. Eu desejava saber o trabalho que me esperava para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei-a para jantar.

- Puxa, que jantar bacana! – disse ela, quando saímos do restaurante. Fomos ao cinema.

- Puxa, que filme bacana! – disse ela, quando saímos do cinema.

Levei-a para casa.

- Puxa, foi um programa bacana! – disse ela, ao nos despedirmos.

Voltei para o quarto com o coração pesado. Eu subestimara gravemente as proporções da minha tarefa. A ignorância daquela moça era aterradora. E não seria o bastante apenas instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a pensar. O empreendimento se me afigurava gigantesco, e a princípio me vi inclinado a devolvê-la a Pettey. Mas aí comecei a pensar nos seus dotes físicos generosos e na maneira como entrava numa sala ou segurava uma faca, um garfo, e decidi tentar novamente.

Procedi, como sempre, sistematicamente. Dei-lhe um curso de Lógica. Acontece que, como estudante de direito, eu freqüentava na ocasião aulas de Lógica, e portanto tinha tudo na ponta da língua.

- Polly – disse eu, quando fui buscá-la para o nosso segundo encontro. – Esta noite vamos até o parque conversar.



- Ah, que bacana! – respondeu ela.

Uma coisa deve ser dita em favor da moça: seria difícil encontrar alguém tão bem disposta para tudo.

Fomos até o parque, o local de encontros da universidade, nos sentamos debaixo de uma árvore, e ela me olhou cheia de expectativa.

- Sobre o que vamos conversar? – perguntou.

- Sobre Lógica.

Ela pensou durante alguns segundos e depois sentenciou:

- bacana!

- A Lógica – comecei, limpando a garganta – é a ciência do pensamento. Se quisermos pensar corretamente, é preciso antes saber identificar as falácias mais comuns da Lógica. É o que vamos abordar hoje.

- bacana! – exclamou ela, batendo palmas de alegria.

Fiz uma careta, mas segui em frente, com coragem.

- Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter.

- Vamos – animou-se ela, piscando os olhos com animação.

- Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não qualificada. Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar.

- Eu estou de acordo – disse Polly, fervorosamente. – Quer dizer, o exercício é maravilhoso. Isto é, desenvolve o corpo e tudo.

- Polly – disse eu, com ternura – o argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício é ruim. Muitas pessoas têm ordem de seus médicos para não exercitarem. É preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom para a maioria das pessoas. Do contrário está-se cometendo um Dicto Simpliciter. Você compreende?

- Não – confessou ela. – Mas isso é bacana. Quero mais. Quero mais!

- Será melhor se você parar de puxar a manga da minha camisa – disse eu e, quando ela parou, continuei:

- Em seguida, abordaremos uma falácia chamada generalização apressada. Ouça com atenção: você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Petey Bellows não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na universidade sabe falar francês.

- É mesmo? – espantou-se Polly. – Ninguém?

Contive a minha impaciência.

- É uma falácia, Polly. A generalização é feita apressadamente. Não há exemplos suficientes para justificar a conclusão.

- Você conhece outras falácias? – perguntou ela, animada. – Isto é até melhor do que dançar.

- Esforcei-me por conter a onda de desespero que ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada com aquela moça, absolutamente nada. Mas não sou outra coisa senão persistente. Continuei.

- A seguir, vem o Post Hoc. Ouça: Não levemos Bill conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai junto, começa a chover.

- Eu conheço uma pessoa exatamente assim – exclamou Polly. – Uma moça da minha cidade, Eula Becker. Nunca falha. Toda vez que ela vai junto a um piquenique…

- Polly – interrompi, com energia – é uma falácia. Não é Eula Becker que causa a chuva. Ela não tem nada a ver com a chuva. Você estará incorrendo
em Post Hoc, se puser a culpa na Eula Becker.

- Nunca mais farei isso – prometeu ela, constrangida. – Você está brabo comigo?

- Não Polly – suspirei. – Não estou brabo.

- Então conte outra falácia.

- Muito bem. Vamos experimentar as premissas contraditórias.- Vamos – exclamou ela alegremente.

Franzi a testa, mas continuei.

- Aí vai um exemplo de premissas contraditórias. Se Deus pode fazer tudo, pode fazer uma pedra tão pesada que ele mesmo não conseguirá levantar?

- É claro – respondeu ela imediatamente.

- Mas se ele pode fazer tudo, pode levantar a pedra.

- É mesmo – disse ela, pensativa. – Bem, então eu acho que ele não pode fazer a pedra.

- Mas ele pode fazer tudo – lembrei-lhe.

Ela coçou a cabeça linda e vazia.

- Estou confusa – admitiu.

- É claro que está. Quando as premissas de um argumento se contradizem, não pode haver argumento. Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível. Compreendeu?

- Conte outra dessas histórias bacanas – disse Polly, entusiasmada.

Consultei o relógio.

- Acho melhor parar por aqui. Levarei você em casa, e lá pensará no que aprendeu hoje. Teremos outra sessão amanhã.

Deixei-a no dormitório das moças, onde ela me assegurou que a noitada fora realmente bacana, e voltei desanimadamente para o meu quarto. Petey roncava sobre sua cama, com a jaqueta de couro encolhida a seus pés. Por alguns segundos, pensei em acordá-lo e dizer que ele podia ter Polly de volta. Era evidente que o meu projeto estava condenado ao fracasso. Ela tinha, simplesmente, uma cabeça à prova de Lógica.

Mas logo reconsiderei. Perdera uma noite, por que não perder outra? Quem sabe se em alguma parte daquela cratera de vulcão adormecido que era a mente de Polly, algumas brasas ainda estivessem vivas. Talvez, de alguma maneira, eu ainda conseguisse abaná-las até que flamejasse. As perspectivas não eram das mais animadoras, mas decidi tentar outra vez.

Sentado sob uma árvore, na noite seguinte, disse:

- Nossa primeira falácia desta noite se chama ad misericordiam.



Ela estremeceu de emoção.

- Ouça com atenção – comecei – Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas qualificações, o homem responde que tem uma mulher e dois filhos em casa, que a mulher e aleijada, as crianças não tem o que comer, não tem o que vestir nem o que calçar, a casa não tem camas, não há carvão no porão e o inverno se aproxima.

Uma lágrima desceu por cada uma das faces rosadas de Polly.

- Isso é horrível, horrível! – soluçou.

- É horrível – concordei – mas não é um argumento. O homem não respondeu à pergunta do patrão sobre as suas qualificações. Ao invés disso, tentou despertar a sua compaixão. Cometeu a falácia de ad misericordiam. Compreendeu?

Dei-lhe um lenço e fiz o possível para não gritar enquanto ela enxugava os olhos.

- A seguir – disse, controlando o tom da voz – discutiremos a falsa analogia. Eis um exemplo: deviam permitir aos estudantes consultar seus livros durante os exames. Afinal, os cirurgiões levam as radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas que os orientam na construção de uma casa. Por que, então, não deixar que os alunos recorram a seus livros durante uma prova?

- Pois olhe – disse ela entusiasmada – está e a idéia mais interessante que eu já ouvi há muito tempo.

- Polly – disse eu com impaciência – o argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não estão fazendo teste para ver o que aprenderam, e os estudantes sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia entre elas.

- Continuo achando a idéia interessante – disse Polly.

- Santo Cristo! – murmurei, com impaciência.

- A seguir, tentaremos a hipótese contrária ao fato.

- Essa parece ser boa – foi a reação de Polly.

- Preste atenção: se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da existência do rádio.

- É mesmo, é mesmo – concordou Polly, sacudindo a cabeça. – Você viu o filme? Eu fiquei louca pelo filme. Aquele Walter Pidgeon é tão bacana! Ele me faz vibrar.

- Se conseguir esquecer o Sr. Pidgeon por alguns minutos – disse eu, friamente – gostaria de lembrar que o que eu disse é uma falácia. Madame Curie teria descoberto o rádio de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa podia acontecer. Não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e tirar dela qualquer conclusão defensável.

- Eles deviam colocar o Walter Pidgeon em mais filmes – disse Polly – Eu quase não vejo ele no cinema.

Mais uma tentativa, decidi. Mas só mais uma. Há um limite para o que podemos suportar.

- A próxima falácia é chamada de envenenar o poço.

- Que engraçadinho! – deliciou-se Polly.

- Dois homens vão começar um debate. O primeiro se levante e diz: ‘o meu oponente é um mentiroso conhecido. Não é possível acreditar numa só apalavra do que ele disser’. Agora, Polly, pense bem, o que está errado?

Vi-a enrugar a sua testa cremosa, concentrando-se. De repente, um brilho de inteligência – o primeiro que vira – surgiu nos seus olhos.

- Não é justo! – disse ela com indignação – Não é justo. O primeiro envenenou o poço antes que os outros pudesse beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta começar… Polly, estou orgulhoso de você.

- Ora – murmurou ela, ruborizando de prazer.

- Como vê, minha querida, não é tão difícil. Só requer concentração. É só pensar, examinar, avaliar. Venha, vamos repassar tudo o que aprendemos até agora.

- Vamos lá – disse ela, com um abano distraído da mão.

Animado pela descoberta de que Polly não era uma cretina total, comecei uma longa e paciente revisão de tudo o que dissera até ali. Sem parar citei exemplos, apontei falhas, martelei sem dar trégua. Era como cavar um túnel. A princípio, trabalho duro e escuridão. Não tinha idéia de quando veria a luz ou mesmo se a veria. Mas insisti. Dei duro, até que fui recompensado. Descobri uma fresta de luz. E a fresta foi se alargando até que o sol jorrou para dentro do túnel, clareando tudo.

Levara cinco noites de trabalho forçado, mas valera a pena. Eu transformara Polly em uma lógica, e a ensinara a pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma mulher digna de mim. Está apta a ser minha esposa, uma anfitriã perfeita para as minhas muitas mansões. Uma mãe adequada para os meus filhos privilegiados.

Não se deve deduzir que eu não sentia amor por ela. Muito pelo contrário. Assim como Pigmaleão amara a mulher perfeita que moldara para si, eu amava a minha. Decidi comunicar-lhe os meus sentimentos no nosso encontro seguinte. Chegara a hora de mudar as nossas relações, de acadêmicas para românticas.

- Polly, disse eu, na próxima vez que nos sentamos sob a árvore – hoje não falaremos de falácias.

- Puxa! – disse ela, desapontada.

- Minha querida – prossegui, favorecendo-a com um sorriso – hoje é a sexta noite que estamos juntos. Nos demos esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um bom par.

- Generalização apressada – exclamou ela, alegremente.

- Perdão – disse eu.

- Generalização apressada – repetiu ela. – Como é que você pode dizer que formamos um bom par baseado em apenas cinco encontros?

Dei uma risada, contente. Aquela criança adorável aprendera bem as suas lições.

- Minha querida – disse eu, dando um tapinha tolerante na sua mão – cinco encontros são o bastante. Afinal, não é preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não.

- Falsa Analogia – disse Polly prontamente – eu não sou um bolo, sou uma pessoa.

Dei outra risada, já não tão contente. A criança adorável talvez tivesse aprendido a sua lição bem demais. Resolvi mudar de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de amor simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto o meu potente cérebro selecionava as palavras adequadas. Depois reiniciei.

- Polly, eu te amo. Você é tudo no mundo pra mim, é a lua e a estrelas e as constelações no firmamento. For favor, minha querida, diga que será minha namorada, senão a minha vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei comida, vagarei pelo mundo aos tropeções, um fantasma de olhos vazios.

Pronto, pensei; está liquidado o assunto.

- Ad misericordiam – disse Polly.

Cerrei os dentes. Eu não era Pigmaleão; era Frankenstein, e o meu monstro me tinha pela garganta. Lutei desesperadamente contra o pânico que ameaçava invadir-me. Era preciso manter a calma a qualquer preço.

- Bem, Polly – disse, forçando um sorriso – não há dúvida que você aprendeu bem as falácias.

- Aprendi mesmo – respondeu ela, inclinando a cabeça com vigor.

- E quem foi que ensinou a você, Polly?

- Foi você.

- Isso mesmo. E portanto você me deve alguma coisa, não é mesmo, minha querida? Se não fosse por mim, você nunca saberia o que é uma falácia.

- Hipótese Contrária ao Fato – disse ela sem pestanejar.



Enxuguei o suor do rosto.

- Polly – insisti, com voz rouca – você não deve levar tudo ao pé da letra. Estas coisas só têm valor acadêmico. Você sabe muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a ver com a vida.

- Dicto Simpliciter – brincou ela, sacudindo o dedo na minha direção.

Foi o bastante. Levantei-me num salto, berrando como um touro.

- Você vai ou não vai me namorar?

- Não vou – respondeu ela.

- Por que não? – exigi.

- Porque hoje à tarde eu prometi a Pettey Bellows que eu seria a namorada dele.

Quase caí para trás, fulminado por aquela infâmia. Depois de prometer, depois de fecharmos negócio, depois de apertar a minha mão!

- Aquele rato! – gritei, chutando a grama. – Você não pode sair com ele, Polly. É um mentiroso. Um traidor. Um rato.

- Envenenar o poço – disse Polly – E pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma falácia.

Com uma admirável demonstração de força de vontade, modulei a minha voz.

- Muito bem – disse – você é uma lógica. Vamos olhar as coisas logicamente. Como pode preferir Pettey Bellows? Olhe para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um homem com futuro assegurado. E veja Pettey: um maluco, um boa vida, um sujeito que nunca saberá se vai comer ou não no dia seguinte. Você pode me dar uma única razão lógica para namorar Pettey Bellows?

- Posso sim – declarou Polly – Ele tem um casaco de pele de marmota.

 

Max Shulman