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sexta-feira, novembro 18, 2011

Poesia Cecilia Meireles - Renúncia



Renúncia

 RAMA das minhas árvores mais altas,

deixa ir a flor! que o tempo, ao desprendê-la,

roda-a no molde de noites e de albas

onde gira e suspira cada estrêla.

Deixa ir a flor! deixa-a ser asa, espaço,

ritmo, desenho, música absoluta,

dando e recuperando o corpo esparso

que, indo e vindo, se observa, e ordena, e escuta...

 

Falo-te, por saber o que é perder-se.

Conheço o coração da primavera,

e o dom secreto do seu sangue verde,

que num breve perfume existe e espera.

Vertí para infinitos desamparos

tudo que tive no meu pensamento.

Por onde anda? No abismo. Dada ao vento...

Era a flor dos instantes mais amargos.