...” o poeta vulgar sente  espontaneamente com a largueza que naturalmente projetaria em versos como os  que ele escreve; e depois, refletindo, sujeita essa emoção a cortes e retoques  e outras mutilações ou alterações, em obediência a uma regra exterior. 
Nenhum homem foi alguma vez poeta assim. 
A disciplina do ritmo é aprendida até ficar  sendo uma parte da alma: o verso que a emoção produz nasce já subordinado a  essa disciplina. 
Uma emoção naturalmente harmônica é uma  emoção naturalmente ordenada; uma emoção  naturalmente ordenada é uma emoção  naturalmente traduzida num ritmo ordenado, pois a emoção dá o ritmo e a ordem  que há nela, a ordem que no ritmo há.
Na palavra, a inteligência dá a frase, a  emoção o ritmo. Quando o pensamento do poeta é alto,
isto é, formado de uma idéia que produz uma  emoção, esse pensamento, já de si harmônico pela junção equilibrada de idéia e  emoção, e pela nobreza de ambas, transmite esse equilíbrio de emoção e de  sentimento à frase e ao ritmo, e assim, como disse, a frase, súdita do pensamento  que a define, busca-o, e o ritmo, escravo da emoção que esse pensamento agregou  a si, o serve.”
Análise de Fernando Pessoa sobre a poesia  de Álvaro de Campos (um de seus próprios pseudônimos)
Fonte: http://www.secrel.com.br/jpoesia/facam.html
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
