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quarta-feira, janeiro 28, 2009

Origem das Frases e Adagios Populares

Um interessante estudo de José Pereira da Silva que pode ser encontrado em http://www.filologia.org.br/pereira/textos/aorigemdasfrases2.htm sugere a origem de algumas das frases bastante conhecidas por todos nós, já que são parte de nossa cultura popular. Algumas dessas expressões estão listadas abaixo com sua respectiva explicação de onde surgiram:

Arrastar a Asa.

Arrastar a asa é a forma de um galo cortejar a galinha.

É da observação deste fato que surgiu a frase feita que indica o seu correspondente entre os humanos, ou seja, o cortejo do homem a uma mulher.

Como o galo é o símbolo do macho dominador, subentende-se que arrastar asa inclui a demonstração de habilidades de macho ou mesmo de machista.

Muitas outras expressões proverbiais em torno do galo ressaltam estua sua característica, comparando-o ao homem machista e dominador. Vejamos: Cada galo canta no seu poleiro, e o bom no seu e no alheio; Folgai, galinhas, que é morto o galo; Galo que fora de horas canta, faca na garganta; Na casa de Gonçalo, canta a galinha e o falo; Onde canta galo não canta galinha; Onde há galo não canta galinha; Triste é a casa onde a galinha canta e o galo canta; Onde o galo canta, aí janta; Galo, antes de cantar, bate as asas três vezes; Galo cantando, à boca da noite, é sinal de que estão furtando moça; Como canta o galo velho, assim cantará o novo; Todo galo é valentão para galinha e capão; A pinta que o galo tem o pinto nasce com ela: Cantiga que o pinto canta o galo já cantou; Galo no seu poleiro briga com o mundo inteiro; Franga que canta chama galo: Galo velho; Galo de um terreiro só; O galo daqui sou eu; Cantar de galo; Quando o galo canta fora de hora é moça roubada que vai dando o fora; Baixar a crista; Cada galo em seu terreiro;

Plantar Bananeira

O que é característico e marca o ridículo de tal ato é aspecto visual, a partir do qual se criaram várias metáforas. Tais metáforas, sugeridas pelas naturais substituições dos nomes das partes pudendas do corpo humano por nomes relacionados com animais, plantas ou objetos, são conseqüências dos tabus lingüísticos que cercam, principalmente, órgãos sexuais.

Quem planta bananeira, ficando de pernas para cima e de cabeça em direção ao solo (senão posta ao solo) cria a imagem de uma bananeira, com um cacho, com banana, com umbigo, comas folhas representadas pelas pernas, tudo isto muito exposto e aumentado o aspeco ridículo com o fato de ser a posição oposta à que normalmente o ser humano posa.

A idéia de ridículo deste ato, portanto, está relacionado com um aspecto psíquico da linguagem, que se estabelece por comparação ou associação de imagens.

Fazer Boca-de-siri

Como diversas frases feitas por nós estudadas, esta também é resultado da observação da natureza. O siri, ao prender alguma coisa com a "boca", que é uma de suas garras, não solta nem mesmo depois de morto. Ora, como fechar a boca implica ficar calado, fazer boca-de-siri passou a substituir uma explicação muito mais extensa que pudesse indicar o ato de calar-se ou fazer segredo rigoroso.

Há diversas outras formas de sugerir idéia de segredo através da palavra "boca", que se pode fechar de vários modos: Em boca fechada não entra mosquito; Boca calada é remédio; Boca cheia não conversa; Boca que fala não mastiga; Minha boca é um túmulo; Minha boca é um botão; A boca pequena; De boca em boca.

O provérbio: Em bica fechada não entra mosquito, que é uma forma ameaçadora de prevenir os delatores contra prováveis conseqüências de sua indiscrição, tem versões em latim, espanhol, francês, italiano e inglês. Destas formas, destacam-se pela semelhança com a nossa, a francesa: En bouche serée n’entrent des mouches e a espanhola: En boca cerrada non entra mosca.

Dar Bode

É evidente o significado de dar, que corresponde a resultar ou ter por resultado. Mas o que vem a ser bode?

Lembramos que bode sempre esteve ligado às forças diabólicas, como lembra Câmara Cascudo, em seu Coisas que o Povo Diz: "Qualquer velha bruxa de outrora, sabedora de orações e remédios fortes, informava do poder do Bode, sinônimo diabólico, temido e respeitado na ambivalência natural."

Aliás, segundo a tradição judaica, o bode era o animal escolhido para carregar todos os pecados de seu povo e, por isso, ser abandonado num deserto. Representando todo o mal, o bode expiatório era ao mesmo tempo vítima e réu.

Dar bode é resultar numa situação infernal, indesejável, confusa.

Embora o bode esteja quase sempre relacionado com a atividade sexual masculina, em diversos provérbios e expressões populares, não há probalidade de haver conotações desta natureza na frase feita em questão.

Relacionada com a idéia de vítima, conheço o seguinte anexim com a palavra bode: Quem menos pode é quem paga o bode.

Dar Bola

Surgiu certamente com o jogo de futebol. Neste esporte, os atletas devem dar a bola aos companheiros de equipe em situações estratégicas mais vantajosas para que se atinja o objetivo, que é o gol, o mais rápido possível.

É claro que não se dá bola para quem estiver em situações menos favoráveis, como por exemplo, marcado por adversário muito forte.

Também existe a expressão dar pelota, que tem a mesma origem e significado.

Dar com os Burros n’água

Antônio José da Silva, o Judeu, tem o seguinte passo, na voz do Escudeiro: "-Ah burro do meu coração! Bem te entendo o que queres dizer nesse zurro; mas não te posso ser bom; tem paciência, que bem sei, que deixar-te, dei com os burros na água!"

A outra abonação antiga que possuímos é de Gregório de Matos: "- Que de tudo o que tem vítima faz,

E dá com os burros n’água desta vez."

Acreditamos que a frase provém de um conto popular vulgarizado oralmente no interior do Brasil. Lembro-me de tê-lo ouvido há uns 25 ou 30 anos em Minas Gerais.

Conta-se que dois tropeiros foram incumbidos de realizar a façanha de transportar com suas respectivas tropas uma carga qualquer até um determinado lugar, onde estaria a pessoa que pagaria com um prêmio o que primeiro chegasse com a sua carga.

Acontece que o caminho era desconhecido, e ambos tiveram o direito de escolher a mercadora que desejavam para que a viagem se tornasse mais fácil.

O primeiro escolheu uma carga de algodão, porque era mais leve. O segundo escolheu uma carga de sal, por que era mais volumosa.

Seguindo caminhos diferentes, no entanto, ambos tiveram que passar a vau por um rio, que surgiu inesperado.

O primeiro, ao tentar passar, umedeceu sua carga e os quase morreram afogados, saindo a custo do rio, onde a carga ficou perdida, com um peso insuportável.

Ao tentar passar, o segundo tropeiro teve toda a sua carga de sal derretida, chegando na outra margem apenas com a sua tropa descarregada.

Deste modo, ao dar com os burros n’água, os dois tropeiros tiveram fracassadas as suas empresas, não logrando o desejado prêmio.

Existem outras variantes, em que apenas um dos tropeiros dá com os burros n’água, enquanto o outro consegue passar com a carga e receber o prêmio, conforme relato do Prof. Edwaldo Cafezeiro, da Profa. Guaciara e outros colegas a quem consultei sobre tal conto popular.

Dar as Caras

Assim como a flexão facilita a interpretação nas variantes acima, suponho ter descoberto a origem desta frase feita a partir do plural, que parece estranho ao significado normal ou à associação que fazemos com a idéia de rosto da pessoa que dá as caras.

Como as pessoas não têm mais de uma cara, a expressão deveria ser dar a cara, se estivesse relacionada com rosto ou cara da pessoa que aparece, dando as caras.

Só por associação vem-nos a idéia de caras, correspondentes às cartas de baralho de maior valor em vários jogos. Dar as caras, que não é expressão dos jogos de cartas, associa-se a dar as cartas quanto à forma morfossintática e fonética, e a mostrar o jogo quanto ao significado.

Como as caras das pessoas não podem aparecer sem que as próprias pessoas apareçam, dar as caras passou a significar "aparecer, fazer uma visita".

O cruzamento semântico proveio da semelhança dos elementos componentes das expressões dar as cartas e dar as caras.

Botar as Cartas na Mesa

A expressão tem origem no jogo de baralho.

Dar as cartas ou botar as cartas na mesa são expressões que indicam o ato de comando que inicia o jogo.

Quem dá as cartas ou bota as cartas na mesa é responsável pela sorte dos demais jogadores.

No jogo-de-cartas com a pretensão de adivinhar o futuro (cartomancia), a superioridade de quem bota ou põe as cartas na mesa não acaba com este ato, continuando durante o desenrolar da ação que aí começa. É mesmo provável que esteja especificamente neste tipo de jogo-de-cartas a origem da expressão.

Casa da Mãe Joana

João Ribeiro pensa que a expressão, em sua forma crua e nua, é Cu da mãe Joana.

E acrescenta: "Esta pobre da Mãe Joana é o simples vocábulo árabe damchan que significa garrafão, e como verbo, meter uma coisa em outra: e é dedução perfeita porque os garrafões servem para que neles se lance alguma coisa e sempre são por sua vez metidos em palhas ou gigos abertos e protetores. De Damchan o espanhol fez damajuana, e o francês dame-jeanne também a tem com o mesmo sentido de vaso grande de cristal ou garrafão."

Daí a expressão casa de Mãe Joana, formada por etimologia popular.

Sem ao menos fazer alusão às conjeturas de João Ribeiro, Luís da Câmara Cascudo vê a origem da frase em questão sob um outro ângulo, mais aceitável e menos conjectural:

Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), em sua tumultuosa existência, refugiou-se no Avignon em 1346. No ano seguinte, regulamentando os bordéis da cidade, aprovou um estatuto que dizia em um de seus artigos: "- et que siegs une porto... dou todas las gens entraron." Ou seja, ... e que tenha uma porta por onde todas as pessoas possam entrar.

O prostíbulo se tornou o Paço da Mãe Joana, nome que se divulgou em Portugal.

Aliás. Teófilo Braga informa:

-Paço da Mãe Joana com que se designa a casa que está aberta para toda a gente. Nos açores é muito usual para dizer que uma porta está escancarada - É como o Paço da Mãe Joana!

No Brasil, paço não é vocábulo popular. Tornou-se casa e, às vezes, com nome mais repugnante e feio.

Tirar o Cavalo da Chuva

Ainda é costume, no interior, onde o cavalo é o meio de transporte mais comum, amarrar-se o cavalo na frente da casa. Amarrá-lo sob a varanda ou em algum lugar protegido do sol é indício de que o visitante pretende demorar, o que se considera uma indiscrição pouco desculpável.

Tirar o cavalo da chuva seria amarrá-lo na varanda ou alguma outra proteção, para que o visitante pudesse demorar-se calmamente.

Quando este esboça um gesto de partir, o dono da casa diz logo: - Pode tirar o cavalo da chuva, ou seja, pode desistir dessa pressa de partir.

A ampliação de sentido para desistir de alguma coisa, ou simplesmente desistir, é uma conseqüência do uso muito freqüente da expressão.

Amadeu Amaral afirma que não existe em português nem noutra língua um correspondente exato deste adágio.

Fazer Chacrinha

Locução corrente no meio radiofônico, com o sentido de formar grupos para comentar desfavoravelmente os colegas de trabalho.

Embora pareça ser o diminutivo de chacra ou chácara, de proveniência quíchua (chajra), com o sentido de pequena propriedade rural, é mais fácil relacioná-la com o indo-europeu correspondente aos sânscrito chakra, chakkram em malaiala.

O sentido da palavra em sânscrito, chakra=roda, está bem claro na expressão brasileira fazer chacrinha, ou seja, fazer uma rodinha de amigos para fofocar ou bater um papo.

Com o sucesso dos programas televisionados do Chacrinha, Abelardo Barbosa Chacrinha, pretende-se relacionar a expressão com as características dos programas deste artista, com o sentido de promover uma reunião ao mesmo tempo festiva e aparentemente desorganizada, bagunçada. É um uso modernizado da expressão, que é anterior ao aparecimento do Chacrinha.

Embora a palavra chacra ou chácara, de origem quíchua, seja a única forma viva em português, ao menos no Brasil, não é visível a relação entre o seu diminutivo (chacrinha) e a frase feita fazer chacrinha.

A Coisa Está Preta

A cor preta simboliza algumas das piores coisas, entre as quais se encontra o luto.

Segundo Luís da Câmara Cascudo, no entanto, "o luto negro só tomou maior popularidade em Portugal no séc. XVI. Antes o burel (branco) competia com o dó (negro) como cores dedicadas ao luto. Nas antigas missas de sétimo dia quem não possuía preto ia de branco."

Acreditamos ter nascido daí a expressão a coisa está preta, pintadinha de branco. Supõe-se uma situação ainda pior do que aquela em que a coisa está preta, pois carrega o agravante da pobreza, que impossibilitou a compra de um luto, ou seja, da roupa de cor preta.

Costuma-se dizer também que a coisa está ruça, equivalendo a a coisa está preta. Ora, também o ruço supõe o preto e o branco. No mínimo, é um preto desbotado. Tratando de roupa, a cor desbotada supõe um longo uso, e, neste caso de luto, o prolongamento de uma situação muito desagradável.

A coisa, o estado-de-coisas ou a situação está ficando preta quando as pessoas enlutadas começam a se aglomerar. É uma imagem visual do indesejável, do que é ruim.

O preto talvez tenha predominado com o sentido de luto a partir do séc. XVI, conforme vimos, por analogia à situação miserável da escravidão imposta aos africanos negros a partir daquela época na Europa e transportados, posteriormente, para o Brasil.

Não Dizer Coisa com Coisa

A coerência quanto ao que se faz ou diz só pode ser aferida por comparação. Se o que alguém disse ou fez há algum tempo e o que diz ou faz atualmente não se ajusta, tal pessoa não está dizendo coisa com coisa.

Ao contrário dos modismos que indicam a disparidade ou a extravagância e contradição de objetos que acaso ou a propósito se defrontam, suas formas primitivas são de identificação de coisas que se enumeram seguidamente e aos pares, como coisa com coisa, que dever ser a mais primitiva.

As frases: que tem o cu com as calça? Que tem o cós com as calças? ou que tem uma coisa com a outra? são todas variantes cujo núcleo é coisa com coisa.

Aliás, a própria palavra cós tem alguma analogia fonética com coisa

Dar uma Colher de Chá

O chá é dado aso doentes, como remédio, mas não apenas uma colher. Uma colher de chá seria insuficiente para curar qualquer tipo de doença. Mas não deixa de ser uma pequena oportunidade, a partir da qual se poderá avaliar a conveniência ou não-conveniência em prosseguir com ajuda.

Quem aproveita uma colher de chá poderá receber mais ajuda. Mas há quem não dá colher de chá a ninguém. E, não dar uma colher de chá, quase sempre é considerado um ato execrando, a menos que a primeira não tenha sido aproveitada.

Meter a Colher

Meter a colher; meter a colher de pau; meter a colher enferrujada; meter o bedelho; meter o nariz; meter a catana, são variantes da mesma expressão.

Naquelas em que entra a palavra colher não há dúvidas de que a origem está na cozinha. Certamente, isto acontecer quando alguém, assumindo a responsabilidade da execução de um prato, não quis ceder às opiniões ou interferência de outra pessoa. Os determinantes de pau ou enferrujada têm a pretensão de desprestigiar as opiniões emitidas, os palpites dados.

Bedelho é uma carta de pequeno valor nos jogos de baralho. E meter o bedelho é intrometer-se inopinadamente em conversa ou assunto que não lhe diz respeito. Neste caso, o que se leva em consideração é o valor ou o peso da opinião, comparada a um bedelho, que é um trunfo menor.

Meter o nariz não significa uma interferência necessariamente ativa, podendo consistir em olhar de perto e atentamente, quase por mera curiosidade, interferindo passivamente nos negócios ou assuntos alheios. Meter o nariz onde não é chamado é a forma desenvolvida de meter o nariz

Sendo a catana uma espada afiada e longa, usada no Japão no século XVI, quando o vocábulo surgiu em Portugal, houve uma símile entre a espada afiada e a língua ferina. Por isso é que meter a catana tem a mais o sentido de ferir, falando contra alguém ou comentando fatos reprovativos.

Ir pras Cucuias

Cucuias é o nome de algum lugar, se não real, ao menos imaginário. Provavelmente, uma região maranhense entre os rios Panamá e Marapi, onde vive um subgrupo dos índios pianocotós denominado de cucuianas.

Se esta é a origem da expressão, corresponde estrutural e semanticamente com ir pra caixa-prego ou ir pra cabrobó, que são nomes de lugares reais, localizados na Bahia e em Pernambuco, respectivamente.

José Pedro Machado, no entanto, aponta origem malaiala para o termo cucuia, que provém do verbo ku) kkuka, que significa bradar ou dar rebate. O grito de rebate, dando sinal de inimigo, ou, entre os navegantes, dando sinal de terra, denomina-se cucuiada, que é uma palavra derivada de cucuia.

Embora não seja fácil a explicação, nesta linha de pensamento, visto que grito não poderia ser um lugar para onde se possa ir, imaginamos um lugar onde haja muitos gritos, um lugar onde o medo e a dor predominam. Aí devem ser as cucuais. Um lugar imaginário. Neste caso a expressão corresponde a ir para os infernos ou ir para as profundezas dos infernos, etc.